CLIMA

Nos Países Baixos, autoridades do RS buscam soluções contra enchentes

Comitiva gaúcha visita projetos inovadores para adaptação climática e proteção contra inundações

Desde a semana passada, representantes do Governo do RS e da Prefeitura de Porto Alegre realizam uma missão oficial nos Países Baixos, nome oficial da Holanda. O objetivo é conhecer estratégias de adaptação climática daquele país, que já sofreu com episódios do mesmo tipo das enchentes de maio de 2024 no Rio Grande do Sul.

O governador do Estado, Eduardo Leite, e o prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo, embarcaram na viagem.

Sand Engine

Conceito do Building with Nature é usar as forças naturais para reduzir custos e criar soluções mais sustentáveis – Foto: Mauricio Tonetto/Secom

O domingo (23) foi o terceiro dia da missão. A comitiva gaúcha iniciou o dia visitando o Sand Engine (foto acima), projeto que usa as forças da natureza para proteger o litoral. Em seguida, encerrou o dia conhecendo a província de Zeeland, região que sofreu com uma enchente em 1953. O projeto abarca a proteção do Litoral e a adaptação das cidades.

A apresentação do Sand Engine ficou a cargo da professora gaúcha Taneha Bacchin. Ela mora em Roterdã, segunda maior cidade dos Países Baixos, e onde fica o maior porto marítimo da Europa.

O projeto envolveu a deposição de 21,5 milhões de metros cúbicos de areia que, gradualmente, é distribuída ao longo da costa pelas próprias ondas, correntes e ventos. 

“Este é um exemplo do conceito Building with Nature, construir com a natureza. Usamos as forças naturais a nosso favor, reduzindo custos e criando soluções mais sustentáveis”, explicou Bacchin.

Molenwaterpark

À tarde, a comitiva visitou Middelburg, capital da província de Zeeland, onde conheceu o Molenwaterpark. Este é um espaço urbano histórico que foi adaptado para prevenir alagamentos.

O parque, reestruturado em 2018, combina preservação histórica com tecnologia moderna Ele possui um sistema de gestão de águas pluviais capaz de reter até 2 mil metros cúbicos de água durante chuvas intensas, equivalente a 100 mil barris.

“O Molenwaterpark é um case de como podemos adaptar espaços históricos para os desafios climáticos sem perder nossa identidade cultural”, destacou o vice-prefeito, Jeroen Louws, durante a recepção à comitiva.

Espaço para a água

Em Veessen-Wapenveld, estrutura tem 8 quilômetros de extensão e funciona como área de escape – Foto – Mauricio Tonetto – Secom

No sábado (22) a missão foi conhecer dois dos principais projetos do programa Room for the River. As visitas técnicas em Veessen-Wapenveld e Nijmegen demonstraram diferentes abordagens: uma solução para área rural e outra para zona urbana.

“Os neerlandeses mudaram sua mentalidade ao longo do tempo. Em vez de lutar contra o rio, apenas construindo diques cada vez mais altos, eles aprenderam a dar espaço para a água. São soluções que combinam engenharia com respeito à natureza”, destacou Leite.

A implementação dos projetos se deram após as graves enchentes de 1993 e 1995, que forçaram a evacuação de 250 mil pessoas nos Países Baixos. Entre 2006 e 2019, governo executou 34 projetos em diferentes regiões do país.

Veessen-Wapenveld

Pela manhã, a comitiva visitou o canal de águas altas de Veessen-Wapenveld, estrutura com oito quilômetros de extensão que funciona como área de escape para as águas do rio IJssel durante períodos de cheia. A conclusão do projeto ocorreu em 2017 tornando possível reduzir em até 71 centímetros o nível da água na região.

Essa área tem utilidade em períodos com menos precipitação. No dia a dia, serve para agricultura e lazer. Apenas em situações excepcionais, que estima-se ocorrer a cada 75 anos, o canal é ativado para receber o excesso de água do rio.

Nijmegen

À tarde, o grupo conheceu o projeto em Nijmegen, cidade que enfrentava situação similar à de Muçum, no Vale do Taquari. Assim como acontece com o Rio Taquari em Muçum, o Rio Waal fazia uma curva acentuada em Nijmegen, formando um gargalo que aumentava o risco de enchentes.

A solução foi recuar em 350 metros o dique existente e criar um canal auxiliar com capacidade para escoar parte da água do rio. O projeto, que custou 350 milhões de euros (cerca de 1,9 bilhão de reais), incluiu a realocação de 50 residências e criou uma ilha urbana que hoje serve como área de lazer para a população.

A missão

A missão oficial se estende até 26 de fevereiro e deve contribuir para a implementação do Plano Rio Grande, estratégia do governo estadual para reconstrução e adaptação após as enchentes que atingiram o Estado em 2024.