Uma coletiva de imprensa realizada nesta sexta-feira (10) divulgou novas informações sobre o caso de envenenamento por arsênico. A perícia confirmou que Paulo Luiz dos Anjos, morto em setembro, ingeriu o veneno. Ele é uma das vítimas atribuídas à investigada Deise Moura dos Anjos, nora de Paulo, apontada como autora de ao menos quatro homicídios por envenenamento.
A entrevista começou com a fala do secretário de Segurança Pública, Sandro Caron. Ele explicou que novas informações sobre não podiam se tornar públicas, pois haviam diligências em curso.
Mais adiante na coletiva, quando a palavra voltou ao secretário, ele destacou a violência dos crimes. “Estamos diante de um crime, talvez sem precedentes na história do Rio Grande do Sul. A investigação indica que ela pode ter envenenado outras pessoas bem próximas”, afirmou.
De acordo com o subchefe da Polícia Civil, delegado Heraldo Guerreiro, as provas colhidas até o momento convencem que a investigada, Deise Moura dos Anjos, é a autora dos envenenamentos. “Ela provavelmente, não sairá da cadeia nesta vida“, afirmou.
O diretor de Polícia do Interior, Cléber Lima, apontou que a Polícia Civil está apontando a autoria do crime “com responsabilidade”. Ele destacou que, a partir das provas testemunhais, já era possível realizar a prisão da investigada. No entanto, o delegado Marcos Vinicius Muniz Veloso, titular da Delegacia de Polícia de Torres, esperou as provas periciais para solicitar a prisão à Justiça.
Ainda conforme Lima, Deise Moura dos Anjos “pesquisou, comprou, recebeu e usou o veneno para matar as vítimas”, apontou.
Arsênico pelos Correios
A delegada Sabrina Deffente, que atua na regional do Litoral Norte, destacou que a entrega do arsênico ocorreu pelos Correios. Essa informação foi obtida através da extração de dados dos celulares coletados da acusada. “Era uma surpresa para todos nós. A gente não tem dúvida que se trata de uma pessoa que praticava homicídios e tentativas de homicídios em série e que, por muito tempo, não foi descoberta. E durante muito tempo tentou apagar provas que pudessem levar à atribuição de culpa a ela”, destacou a delegada.
“Este fato que ocorreu em Torres, acabou fugindo do controle dela”, ressaltou. De acordo com a policial, o bolo era para ser consumido por três pessoas, entre elas Zeli dos Anjos, que tinha feito o doce.
“Com essa investigação a gente descobriu não só essas mortes mas, também, a morte do sogro ocorrida três meses antes. Adianto para vocês que há fortes indícios que ela tenha praticado outros envenenamentos de pessoas próximas da família, que vão ser objetos de investigação a partir de agora”, finalizou.
“É muito fácil comprar veneno”, diz delegado
O delegado Marcos Vinicius Muniz Veloso, titular da Delegacia de Polícia de Torres, afirmou que há provas que Deise Moura dos Anjos causou a morte de quatro pessoas “por ora”. “As provas são muito robustas que essa mulher matou quatro pessoas e tentou matar outras três. Mas, também, que ela tenha participado de outras tentativas de homicídio“, pontuou.
Conforme o delegado, a morte dessas pessoas por envenenamento pode acarretar na criação de um protocolo para identificar envenenamento nos hospitais. “Precisamos investigar toda e qualquer morte por, entre aspas, ‘intoxicação alimentar’. Vamos provar que é muito fácil comprar veneno“, apontou.
Para o policial, a acusada procurou meios de esconder o uso do arsênico. E, posteriormente, buscou cremar o corpo do sogro. Ela não conseguiu porque não havia a assinatura de um segundo médico autorizando o procedimento.
O delegado afirmou que, no período de cinco meses, a acusada realizou quatro compras de veneno. “Uma antes da morte do sogro e três antes das mortes do caso do bolo em Torres. Sendo que, em uma das três, nós encontramos a nota fiscal e o código de rastreio”, afirmou o policial.
Método e comportamento da investigada
Durante a coletiva, os policiais mostraram mensagens da investigada com pessoas do seu relacionamento dela. “Quando eu morrer, cuida do meu filho e reza bastante por mim, pois é bem provável que eu não vá para o paraíso”, diz o texto.
Para a sogra, Zeli dos Anjos, ela enviou uma mensagem dizendo que era preciso “rezar mais”. “Acho que precisamos rezar mais, aceitar mais e não procurar culpados onde não tem. Não só os momentos que Deus nos reserva, isso sim, não têm volta. Nem polícia, nem perícia que possam nos ajudar a desvendar”, aponta o texto enviado após a morte do sogro, esposo de Zeli.
Depois, em outra mensagem, afirma: “Não sei, acho que eu não faria nada, pois poderia ter sido várias coisas: intoxicação alimentar, negligência médica, a banana contaminada pela enchente, ou simplesmente a hora dele… Sei lá”.
“A todo momento ela cometia o delito e tentava apagar esse delito”, concluiu o delegado.
Exumação identificou arsênico
A coletiva também trouxe detalhes sobre a morte de Paulo Luiz dos Anjos, morto em setembro. Ele era o esposo de Zeli dos Anjos, quem fez o bolo que estava contaminado com arsênico.
A diretora do IGP, Marguet Mittmann, apontou que o veneno é um metal de degradação muito lenta, comercializado na forma de um pó branco. E que ele possui aparência similar a farinha ou leite em pó. “A olhos nus é imperceptível ver que há uma modificação ou alteração nesses produtos”, afirmou a perita.
“[O arsênio] pode perdurar tanto no ambiente quanto nos organismos durante vários anos. Por isso nós tínhamos em mente a certeza que, se houvesse caso de envenenamento por arsênio, a perícia iria descobrir”, destacou. A forma como ele é vendido é o arsênico.
Nas amostras tomadas para análise, os peritos encontraram altas concentrações do metal no fígado e no estômago de Paulo Luiz. “No estômago, essa concentração encontrada corresponde a segunda maior entre as quatro vítimas que vieram a óbito”, afirmou a diretora do IGP. “Somente uma delas teve concentração maior [de arsênio] que a encontrada na exumação do senhor Paulo. Portanto os índices de arsênio encontrados nos materiais coletados são, obviamente, tóxicos e letais, o que explica a causa da morte”, esclareceu.
Para a Marguet Mittmann, as provas periciais comprovam de “forma robusta e inquestionável”, a impossibilidade de se tratar de uma intoxicação alimentar, contaminação natural, ou oriunda da degradação de qualquer substância.
Por fim, a diretora do IGP declarou que a causa da morte de Paulo Luiz dos Anjos se deu por envenenamento por arsênio, ingerido por via oral. A ingestão ocorreu por meio de alguma substância que escondeu o veneno, conforme ela.
Veneno no leite em pó
A delegada Sabrina Deffente complementou que provas do inquérito apontam que o envenenamento de Paulo dos Anjos ocorreu por meio leite em pó. De acordo com a policial, o produto foi levado pela nora para a casa da sogra um dia antes da hospitalização dele.
Ela destacou ainda que a acusada teria realizado uma viagem do tipo “bate-volta” entre Canoas e Arroio do Sal. Além do leite em pó, ela teria levado um cacho de bananas para, de acordo com a delegada, “servir como álibi”.
Novos inquéritos
Como há suspeita de outros envenenamentos, a Polícia Civil vai abrir novos inquéritos, conforme o secretário Sandro Caron. Há indícios que levam os investigadores a crer que a acusada tentou envenenar outras pessoas do seu círculo pessoal.
No entanto, a polícia não divulgou mais detalhes sobre quem seriam essas pessoas. As investigações estão em curso e, portanto, divulgar informações pode embaraçar as diligências em andamento.