INVESTIGAÇÃO EM TORRES

Mulher é presa por envenenamento com arsênio em bolo que matou três pessoas no Litoral Norte do RS

Polícia Civil identifica desavença familiar como motivação no caso do bolo envenenado em Torres.

Crédito: Polícia Civil / Divulgação
Crédito: Polícia Civil / Divulgação

A Polícia Civil confirmou, nesta segunda-feira (6), que uma mulher está presa por causa do bolo contaminado com arsênio em Torres, no Litoral Norte do RS. Os indícios levam a polícia a acreditar que o caso se trate de envenenamento intencional.

As vítimas comeram o doce na noite de 23 de dezembro. Neuza Denize Silva dos Anjos, 65 anos; Maida Berenice Flores da Silva, 59; e Tatiana Denize Silva dos Anjos, 47, morreram e outras três ficaram internadas.

A divulgação da prisão e as diligências em curso ocorreu em uma entrevista coletiva realizada em Capão da Canoa. Durante a fala das autoridades, a diretora-geral do IGP (Instituto-Geral de Perícias), Marguet Inês Hoffmann Mittmann, confirmou que a farinha era a fonte da contaminação.

“A concentração encontrada nessa farinha chega a 65 gramas por quilograma. Em torno de 2,7 mil vezes maior do que no bolo. Portanto, nós encontramos aqui a fonte de contaminação”, explicou. Ao todo, 89 amostras passaram por análise.

A mulher é investigada por triplo homicídio e uma tripla tentativa de homicídio, conforme o delegado Marcos Vinícius Veloso. “É desproporcional o motivo para ter cometido um crime desta natureza”, comentou o delegado. Ele afirmou que vários detalhes não podem se tornar públicos porque ainda há diligências em curso.

A investigada, identificada extraoficialmente como Deise Moura dos Anjos, teria agido motivada por uma desavença de mais de 20 anos. A disputa teria ocorrido com sua sogra, Zeli Terezinha Silva dos Anjos, 61 anos, quem fez o bolo.

Investigação continua

A investigação do caso tem outra frente, com a exumação do corpo do marido de Zeli, morto no ano passado. Conforme a polícia, há necessidade de verificar se houve envenenamento dele por causa dos indícios semelhantes da sua morte. O óbito ocorreu em setembro de 2024 por intoxicação alimentar. A morte não teve investigação pela polícia, por ter sido considerada à época natural.

Além da farinha contaminada com arsênio, que estava em uma casa em Arroio do Sal, a Polícia Civil aprendeu dois celulares. Os aparelhos devem passar por análise. A investigada teria usado um dos equipamentos para buscas na internet para adquirir o produto.

Vários pontos seguem sem resposta, até o momento. O arsênio é uma substância considerada altamente tóxica, mesmo em pequenas doses. Ela era usada em pesticidas para controle de pragas urbanas, mas está proibida no Brasil desde 2005. Portanto, a polícia ainda precisa identificar a origem do produto, como houve a compra e quem vendeu.

Relembre o caso

No dia 23 de dezembro, seis pessoas da mesma família comeram um bolo em Torres. Todos passaram mal e precisaram de atendimento médico. Duas mulheres não resistiram e morreram.

Conforme o que consta na investigação, as vítimas chegaram ao Hospital Nossa Senhora dos Navegantes por volta de 1h de terça-feira (24). Uma das pacientes chegou no hospital já em parada cardiorrespiratória, evoluindo para óbito logo em seguida, de acordo com a unidade.

“Uma segunda paciente chegou em estado grave (choque hipovolêmico), evoluindo rapidamente para parada cardiorrespiratória, sendo constatado o óbito pela equipe médica por volta das 6h”, de acordo com o Hospital Nossa Senhora dos Navegantes.

No dia seguinte, dia de de Natal (25), a terceira vítima não resistiu. Durante diligências na residência onde houve a preparação do bolo, em Arroio do Sal, os policiais encontraram alimentos vencidos, incluindo a farinha utilizada na receita.

Uma análise inicial identificou arsênio no sangue de uma das vítimas fatais e de dois sobreviventes que consumiram um bolo durante uma confraternização familiar em Torres, no Litoral Norte do Rio Grande do Sul. No entanto, a análise dos corpos das pessoas que morreram apontou grandes concentrações do veneno.