Uma ação conjunta das forças policiais desarticulou um esquema comandado por facção criminosa de dentro de um presídio gaúcho. Os criminosos comandavam a venda de drogas, o ingresso de celulares na cadeia, ofereciam empréstimos a juros abusivos e legalizavam o dinheiro do crime. A organização criminosa teria movimentado mais de R$ 32 milhões.
Cerca de 700 agentes cumprem mais de 170 mandados judiciais, incluindo 19 prisões e remoção de apenados. A investigação tem como alvos mais de 100 pessoas, entre elas, 27 detentos, e 10 empresas. Houve o bloqueio de 1,3 mil contas bancárias, de acordo com o MP-RS (Ministério Público do RS).
No Rio Grande do Sul, houve cumprimento de 152 mandados de busca e 18 prisões, em Santa Catarina são dois mandados de busca e no Paraná dois mandados de busca e uma prisão, a do líder da facção gaúcha investigada pelo GAECO. Os crimes apurados são de organização criminosa, lavagem de capitais, tráfico de drogas, corrupção ativa e passiva.
Duas operações, mesma quadrilha
Duas operações diferentes ocorrem ao mesmo tempo por estarem interligadas. A “Caixa Forte II” investiga a venda de drogas e ingresso de materiais ilícitos para o interior do PRP (Presídio Regional de Pelotas), inclusive com a participação de um policial penal. Já a “El Patrón” apura um “esquema de microcrédito” com juros de até 280% e métodos de cobrança nos moldes de uma organização criminosa.
Quem coordena as operações é o GAECO Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado do Ministério Público do Rio Grande do Sul). Participam os GAECOs dos MPs de Santa Catarina e Paraná; a Brigada Militar, Susepe (Superintendência dos Serviços Penitenciários), Receita Estadual e Vigilância Sanitária Estadual.
“O GAECO atua focado na higidez do sistema prisional e na desarticulação financeira de organizações criminosas, combatendo os negócios ilegais dos seus líderes e buscando recuperar os valores obtidos ilicitamente”, afirma o promotor de Justiça André Dal Molin.
As operações e investigações possuem coordenação do promotor de Justiça Rogério Meirelles Caldas, do 10° Núcleo do GAECO/Sul. “O lucro obtido com o tráfico era usado para capitalizar a agiotagem e também para lavagem de capitais. Assim como o dinheiro da lavagem e da agiotagem era utilizado para fomentar a venda de drogas. Tudo era retroalimentado pela organização criminosa”, afirma Caldas.
Também participaram os promotores de Justiça Manoel Antunes, Maristela Schneider e Alcindo Luz Bastos da Silva Filho.
Operação Caixa Forte II
A investigação apura as condutas de uma organização criminosa, que montou um centro operacional no PRP. Os criminosos permitiam ingresso de materiais ilícitos, principalmente celulares e vendiam drogas para toda a região. O grupo era investiado desde a Operação Caixa-Forte I.
Houve a apreensão de celulares, drogas, dinheiro e muitos documentos. Com a análise dos materiais, como livros-caixa, os agentes obtiveram ordens judiciais que desencadearam a Operação Caixa-Forte II. O promotor Rogério Caldas identificou a estrutura hierárquica do grupo, com núcleos que vão da gerência às finanças, envolvendo diversos laranjas.
Ele também descobriu que, em 10 meses do ano passado, a facção movimentou R$ 2,6 milhões somente com o tráfico e ingresso de celulares no presídio. Além disso, no PRP, os criminosos contavam com a participação de um policial penal que colaborava com a facção. O servidor é um dos alvos da operação e foi preso nesta sexta-feira.
Houve uma revista no PRP e houve a remoção de oito líderes da organização criminosa, sendo sete com prisão decretada pelos crimes investigados nesta operação. Também houve revistas, devido à participação de outros detentos, na PASC (Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas) e Presídio Regional de Bagé, conforme o MP.
Operação El Patron
Devido à grande movimentação financeira, foi necessário criar uma segunda operação para apurar agiotagem e lavagem de capitais: a El Patron. Como um braço da Caixa-Forte II, o promotor Rogério Caldas diz que a facção também se envolvia com jogos de azar e rifas. Sobre a agiotagem, ele destaca que a organização criminosa utiliza um aplicativo para realizar operações de microcrédito. Por meio de laranjas, o grupo realiza empréstimos com anúncios nas redes sociais e age como se utilizasse empresas especializadas ou idôneas. No entanto, houve comprovação de juros na casa dos 50%, 60%, 80%, 100% e até mesmo 280%. As cobranças ocorriam por meio de métodos usados no crime. Ou seja, devedores sofriam ameaças e outros tipos de sanções mais graves por parte dos integrantes da facção.
A maior parte dos mais de R$ 32 milhões movimentados era com empréstimos, jogos de azar, rifas e também lavagem de capitais. A Justiça autorizou a busca e apreensão de 28 veículos e de quatro imóveis em Pelotas.
Outra forma de lavagem era por meio da aquisição ou investimentos em empresas. São 10 ao todo: açougues, frigorífico e uma imobiliária no Rio Grande do Sul e mais duas imobiliárias em Santa Catarina. Por fim, também havia lavagem de capitais por meio de depósitos em 1,3 mil contas bancárias em nome de laranjas.