Além das diversas perdas humanas e de infraestrutura, as enchentes de maio do RS representaram um enorme prejuízo para o campo, com enormes impactos no solo onde é possível plantar. O maior desafio, apontam pesquisadores, é trazer as terras afetadas de volta aos níveis de produção anteriores ao evento climático.
O Estudo em questão é de autoria da Seapi (Secretaria da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação), da Emater-RS/Ascar e do Departamento de Solos da Faculdade de Agronomia da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul). Trata-se da primeira de uma série de publicações com recomendações para a recuperação de solos agriculturáveis no Rio Grande do Sul, após as enchentes de maio de 2024.
“É uma situação nova, o pessoal do campo está querendo orientações sobre como agir, e fomos buscar na literatura internacional casos semelhantes para nos ajudar nestas soluções”, diz o professor Élvio Giasson. Segundo ele, que é chefe do Departamento de Solos da Faculdade de Agronomia da UFRGS, a novidade desta enchente foi a formação de grandes áreas de sedimentação nas áreas planas.
Já o diretor do DDPA (Departamento de Diagnóstico e Pesquisa Agropecuária) da Seapi, Caio Efrom, destaca que surpreende a diversidade de situações encontradas, muitas vezes dentro da mesma propriedade. “São situações inéditas, por exemplo: das análises preliminares de solo observamos aumento no pH, o que uma tentativa de aplicação de calcário, sem embasamento de recomendação pela análise, incorreria em agravamento da situação”, destaca .
Soluções e orientações
Assim, a indicação geral para os produtores é que haja o adequado planejamento do uso das terras. Isso porque estes fenômenos, como aponta a ciência, devem ser cada vez mais frequentes.
“Este planejamento deve considerar não somente a organização das propriedades agrícolas, mas também a integração com propriedades vizinhas e dentro das bacias hidrográficas. Isso considerando os fluxos e disponibilidade de água para se adequar a períodos de excesso e falta de água”, diz Giasson. Segundo ele, “a água não respeita cercas, passa de uma propriedade para outra, por isso a necessidade de ações conjuntas”.
Desta forma, diz o documento, “estas terras agrícolas precisam de reparos biológicos, físicos e químicos, para recuperação a fertilidade do solo antes de retornar à produção”, aponta o documento. Entre as práticas recomendadas estão:
- remoção de detritos orgânicos
- remoção de depósito de sedimentos
- realização de amostragem e análise química do solo contemplando acidez e disponibilidade de macro e micronutrientes
- reparo de sulcos de erosão e voçorocas
- compactação superficial do solo
Baixa emissão de carbono
O coordenador do plano agricultura de baixa emissão de carbono (Plano ABC+RS), pesquisador do DDPA, Jackson Brilhante, entende que a recuperação dos solos atingidos pelas enchentes passa pela adoção de tecnologias de baixa emissão. Entre elas o sistema de plantio direto, utilização de bioinsumos, a integração lavoura pecuária floresta, as florestas plantadas e as práticas de recuperação de pastagens degradadas.
“Essas tecnologias promovem a melhoria da qualidade do solo, como, por exemplo, o aumento nas taxas de infiltração de água no solo”, destaca. Segundo Jackson, o Plano ABC+RS é hoje a política pública de adaptação às mudanças climáticas no setor agropecuário gaúcho.
A Emater-RS/Ascar participa agora da elaboração deste documento sobre solos e das visitas técnicas para aferição dos danos. Antes, ela fez o cadastro das propriedades atingidas no Rio Grande do Sul pelas enchentes de maio, o levantamento das perdas, a distribuição de produtos como ração para os produtores,
“É muito importante os órgãos estarem trabalhando em conjunto na busca de soluções para os produtores. Nós já estivemos no Vale do Caí, no Vale do Taquari, e agora vamos ver a situação na Serra e nas Terras Baixas para fazer estas análises”, destaca o gerente técnico estadual da Emater-RS/Ascar, Marcelo Brandoli.
Próximos estudos
A Nota Técnica nº 1 já está disponível para download e aponta algumas ações iniciais de recuperação. Orientações para recuperação do solo gaúcho – Nota Técnica. As próximas Notas Técnicas deverão tratar de novos assuntos. Assim, são eles, recuperação da fertilidade do solo, recuperação de áreas atingidas por voçoroca, tipo de mecanização a ser utilizada na recuperação de áreas e na remoção de sedimentos, entre outros temas.
“Ainda não há uma definição sobre o número de publicações, mas a ideia é ter entre quatro e seis, com textos curtos, de fácil leitura para produtores e extensionistas”, destaca Giasson.