As recentes enchentes no Rio Grande do Sul têm provocado devastação material e sérios impactos na saúde mental da população.
O fenômeno atinge tanto quem foi diretamente afetado quanto quem testemunha a destruição em suas comunidades, desencadeando uma série de problemas emocionais e psicológicos.
De acordo com a psicóloga Paula Nunes Lied, a identificação precoce dos sintomas de sofrimento mental e o acesso ao suporte psicológico são essenciais para a recuperação das vítimas.
“Indivíduos diretamente afetados pelas enchentes podem experimentar problemas de saúde mental como ansiedade, medo, transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), depressão e sentimento de luto. A experiência de enfrentar uma tragédia natural pode gerar um estado constante de alerta e preocupação, enquanto a perda de propriedades e a desintegração de laços sociais podem levar à depressão. Pessoas que passaram por eventos traumáticos podem desenvolver TEPT, caracterizado por flashbacks, pesadelos e intensa ansiedade. Além de perdas humanas, as pessoas podem sofrer luto pela perda de casas, pertences e a destruição de suas comunidades”, explica.
As consequências para a saúde mental podem se manifestar tanto a curto quanto a longo prazo. Nas primeiras semanas, é comum as pessoas estarem em estado de choque e negação, dificultando a aceitação da realidade, e pode haver um aumento significativo nos níveis de estresse devido à adaptação às novas circunstâncias e à insegurança sobre o futuro imediato.
A longo prazo, problemas como TEPT e ansiedade crônica podem se prolongar e, se não tratados, se tornar crônicos. Sentimentos de tristeza profunda e perda de interesse em atividades anteriormente prazerosas podem persistir, e o estresse prolongado pode afetar relações familiares e sociais, levando ao isolamento.
As pessoas que não foram diretamente atingidas pelas enchentes, mas que testemunham a destruição ocorrida, também podem sofrer impactos significativos. Segundo a psicóloga, preocupações com a possibilidade de enfrentar a mesma situação no futuro podem gerar ansiedade e medo.
Pode, ainda, surgir uma “culpa do sobrevivente”, onde as pessoas se sentem culpadas por não terem sofrido tanto quanto outros. Ver amigos, familiares e vizinhos sofrendo pode gerar um alto nível de angústia emocional onde, além de TEPT e depressão, podem surgir transtornos de ansiedade generalizada (TAG), transtornos de ajustamento e problemas de sono.
Autocuidado
Para amenizar os efeitos negativos na saúde mental, Paula indica promover estratégias individuais que incluem priorizar o sono, manter uma alimentação saudável, realizar exercícios físicos, técnicas de relaxamento (como mindfulness e meditação) e manter conexões sociais.
Buscar apoio profissional, quando possível, também é indicado, já que psicólogos e psiquiatras podem oferecer suporte especializado, como também participar de grupos de apoio pode ser reconfortante.
“O autocuidado é essencial em momentos de crise, ajudando a manter a estabilidade emocional e física. Manter uma rotina, evitar o consumo excessivo de notícias e buscar hobbies que tragam prazer podem fazer uma grande diferença. A reconstrução da comunidade e o apoio mútuo podem fortalecer laços sociais e oferecer um sentido de propósito e esperança, e facilitar canais de comunicação eficientes para que as pessoas possam expressar suas necessidades e sentimentos é fundamental”, observa a psicóloga.
As tragédias naturais, como as enchentes no Rio Grande do Sul, evidenciam a importância de uma abordagem integrada para a saúde mental, que inclua desde a identificação precoce dos sintomas até estratégias de autocuidado e suporte comunitário.