Crônica de Inter 3 x 2 Grêmio: o povo e seu território

Neste domingo (25), Eu, o F., vou fugir do script de relatar encontros com as pessoas do meu entorno e vou me ater ao Gre-Nal, o grande acontecimento do dia. De tirar o fôlego. Penso que se a arte é mais do que a vida, o Gre-Nal é mais do que a arte. Mais do que catarse, vísceras. A essas alturas, falo de um lugar que eu nem sei onde é.

Pelo campo, atravessam povos e a história. Neste domingo, não foi diferente. Como sempre singular, mas não diferente. O Inter, como se esperava, dominou o campo do Grêmio no primeiro tempo. Com seu meio campo recheado de jogadores de bom passe e movimentação, o Colorado lembrava um Império de Alexandre, ou Persa. Ou como os romanos, instalou um complexo sistema político, uma verdadeira República no campo Tricolor.

O Grêmio, como vêm sempre o clichê, poderia ser comparado aos vermelhos espartanos. Encaixotados na defesa, mas resistindo. O que não é clichê é a comovente revolta contra quem se pretende império.

Mas é Gre-Nal, e, como na história, há ironias. Quem saiu na frente foram aqueles que estavam sem horizonte e viram em uma falha no sistema, na Matrix, no caso Renê, a oportunidade de sair na frente. Logo aos 14, Reinaldo cruzou da esquerda, e o lateral do Inter foi ajeitar com o pé para o goleiro Anthoni, mas este acabou deslocado e a bola entrou.

Nesse momento, em uma pequena do lotado Beira-Rio falou mais alto a voz do trágico. Antigos mitos da ruína de um povo vieram à tona. E Renê era o eleito, ele de erros em outros momentos decisivos. Mas, ao mesmo tempo, outra voz pulsou, a dos valores que tornam uma civilização realmente grandiosa: o companheirismo, a solidariedade e amizade.

Lembrei da cena Didi em 1958, quando o Brasil saiu perdendo e ele mesmo buscou a bola dentro do gol e a colocou no centro, como quem dá a mensagem de que o jogo segue. O Inter fez o mesmo. Não deixou a peteca cair, manteve a calma e empatou. Aos 25, o Inter fez uma tabela no campo do Grêmio Alan Patrick achou Maurício um furo no muro gremista e a bola chegou para Maurício que, próximo da área, chutou de canhota no canto de Marchesin.

Segundo tempo

Ninguém fez substituições no intervalo. Mas o Grêmio voltou mais corajoso. Abandonou seu território e se aventurou no campo do Inter, esperançoso com novos furos. Pegando um termo das artes marciais, a partida ficou mais de “trocação”, o que favorecia os tricolores. Até que aos 10 o Grêmio entrou costurando na área Colorada e Villasanti pôs o Grêmio novamente em vantagem.

Mas o gol novamente não abateu o Inter. Coudet colocou o centroavante Alario e, com 40 segundos em campo, ele recebeu de costas, girou e chutou de canhota para o gol gremista. 2 a 2 e Inter no jogo.

Renato colocou André e Pavón. O Grêmio voltou a assustar. A impressão era de que o Grêmio sairia vencedor, porque o Colorado dava sinais de cansaço, mas também devido ao fato de que, com a entrada de Alario, o meio do Inter dependia de meias-atacantes como Alan Patrick e Maurício para marcar.