CAMPEONATO GAÚCHO

Crônica de Guarany 2 x 1 Inter: os dragões no teatro

Com 20 minutos, Guarany já vencia por 2 a 0. Pedro Henrique descontou de pênalti para o Inter

Pedro Henrique descontou de pênalti para o Inter – Foto: Ricardo Duarte

Quarta-feira (31). O dia acabava alegremente. Minha esposa Lygia e eu estávamos passeando com nosso poodle, o Poe, até a pracinha. Ele fazia xixi de esquina em esquina até que chegamos a um banco, onde sentamos para tomar um resto de sol. Adorava conversar com Lygia, sem ela sou um fragmento. Eu profetizava realidades porvir, ela tratava do espírito dos objetos. Sonho me parecia o mundo, onde o tempo parecia não passar.

Já ao anoitecer, despontou na pracinha o Joaquim. Nosso vizinho, velho jornalista colorado. Tinha visto que o Inter iria jogar com os reservas em Bagé contra o Guarany. Lygia e eu sempre ficávamos felizes com sua presença. Com a feição de quem preparava uma ironia fina, ele se aproximou:

– Hoje só quero falar de metafísica – adiantou.
– Ih, o Inter aprontou, foi? – rebati de pronto, enquanto Lygia, sorrindo, percebia que ele não tinha a aura misteriosa da vitória.
– 2 a 1 Guarany – informou – primeira derrota em 56 anos para este time. Mas não estou bufando de cólera.
– Ah, não?
– Não, sem crise. Além disso, o estádio, o Estrela D’alva, estava lotado. Foi bonita a festa daquele povo.

O olhar de Joaquim era carregado de história. Anos em um jornalão de grande alcance. Se acostumou com a palavras dos redatores, o grandes tenores que achavam carregar consigo a opinião de todos os leitores, quando não a influenciavam. Lygia sentiu os ares de Joaquim.

– Se fosse nos tempos de redação…
– Ah, eu teria de suportar aqueles dragões sombrios fazendo seu grande teatro. Chamando a vertigem das grandes crises quando talvez o time pecou por um certo excesso de confiança.

Aqui cabe um parênteses. Quando eu não via jogos, costumava assistir melhores momentos e comentários. Não necessariamente por amor ao esporte, mas sim por querer arejar a cabeça e ter assunto para falar com o Joaquim. Os fios grisalhos me tiraram o fanatismo. Pois vi que, nesse jogo contra o Guarany, que estava na zona de rebaixamento, o Inter pecou por não conseguir articular jogadas. “Era só balão”, diziam todos que comentavam.

O Guarany se aproveitou desta ineficiência e, com 20 minutos, já vencia por 2 a 0. No primeiro, aos 10, Hugo Mallo deu condição para Tony Júnior, que dominou dentro da área e chutou rasteiro na saída de Anthoni. E depois, aos 22, Mercado dominou mal uma bola e ela ficou para Tony novamente, ele passou para Michel Henrique, que chutou para o gol.  Pedro Henrique descontaria de Pênalti para o Inter.

No segundo tempo, Coudet colocou Wanderson, Alan Patrick, Aránguiz, Valencia e Renê. O Inter dominou, a partida virou ataque contra defesa. Mas com pouquíssimas chances. A melhor foi um chute na trave de Alario já nos acréscimos.  Mas tudo bem, não quis tirar a paz de Joaquim.

– Tudo certo então? – abstraí, meio que desviando o assunto.
– Ah, com certeza. Tenho pensado mais no carnaval – afirmou Joaquim.
– Você, Joaquim? Carnaval? – irrompeu Lygia.
– Ué, por que não? Não perco meu bloco – respondeu.
– Pois não é má ideia. Lembrei do último que fui. Passei o dia ajustando o vestido, até que saí correndo para o baile. Deixei umas lantejoulas no caminho. Elas dançavam no ar, como se quisessem vir comigo – lembrou Lygia.
– Para mim o carnaval representa uma vontade nova, na qual invento uma chama luminosa – falei, para não ficar atrás no lirismo.

Joaquim fez seu aceno de alegria, que surge nesses momentos de verve poética e se despediu. A noite era quente e pedia algo gelado. E, de fato, daqui uns dias tinha carnaval. Em Bagé, ele já havia começado.

Situação e próximo jogo

Com o resultado o Inter permanece com 7 pontos e aguarda o jogo entre Grêmio e Juventude para saber sua posição na tabela do Campeonato Gaúcho. O próximo jogo do Colorado é contra o Caxias, sábado (3), no Beira-Rio. A partida será realizada às 16h30.