A programação da Feira do Livro de Porto Alegre teve, no início da tarde deste sábado (28), a Oficina de Escrita de Contos de Horror, da Escritora Irka Barrios, autora de “Lauren”, “Júpiter Marte Saturno” e “Vespeiro”. A atividade ocorreu na Sala Sergio Napp 1 da Casa de Cultura Mário Quintana, que contou com público acima das expectativas da organização.
Sem dúvida a boa presença dos participantes reflete a popularidade do gênero não só na atualidade, mas sua própria consolidação no imaginário popular ao longo das décadas. A cada teorização da autora sobre o horror, surgiam clássicos como Edgar Allan Poe, Stephen King e Mary Shelley, mas também personagens atuais como os novos Coringas e Batmans.
Mas a argumentação de Barrios não se deteve somente aos arquétipos. Sua explanação esteve quase que o tempo todo centrada no sentimento provocado por este tipo de obra na história. E o afeto principal é o medo. Para ela, a sociedade historicamente se protegeu através desse sentimento e foi esta constatação que guiou suas pesquisas.
Partindo da arte gótica, como uma forma de resistência às transformações propostas pelos iluministas, será o medo o responsável por esta busca de uma literatura das sensações ao mesmo tempo em que reivindica um retorno ao misticismo. Talvez daí surjam arquétipos como o Lobisomem, o Vampiro, a Bruxa, o Fantasma, o Frankenstein e outros.
Mas se vivemos tempos marcados pelo apelo científico-tecnológico, por que afinal o horror parece ter voltado? Barrios sintetizou a resposta em uma frase: “Vivemos tempos góticos”. Porque, apesar da modernidade, vivemos o recrudescimento da guerra, as catástrofes ambientais e outros tipos de fenômenos que reacendem este medo primitivo mesmo em tempos de apelo positivista.
Ademais, os participantes foram ativos na ampliação do debate, evidenciando mais motivos pelos quais o horror, mesmo com sua dependência de uma “suspensão da descrença” por parte do espectador, o que também não combina com uma época científica, reaparece no contemporâneo.
Para eles, também vivemos uma época de redefinição do que seria de fato o “monstro” e a “ameaça” no interior da cultura. Isso porque este arquétipo, algo semelhante ao “estranho”, foi diversas vezes colocado como um “outro exterior”, o que está em processo de ressignificação. O horror reaparece em um momento de borramento das fronteiras entre o Bem e o Mal, o Interior e o Exterior, o Herói e o Vilão, e por aí vai.
Esta foi a primeira parte da atividade, que tem sua parte final no dia 4 de novembro, também às 13h. A troca de ideias terminou em aplauso e com o pessoal nitidamente a fim de saber o restante do conteúdo. Além da teoria, almejada por todos, haverá um exercício prático, onde cada participante irá se permitir pensar seu próprio monstro. Promessa de sensações à flor da pele.