NOITE INSANA

Crônica de Inter 2 (9) x (8) 1 River: um baile da vida

Neste 8 de agosto, Porto Alegre foi Porto Alegre. Inter foi Inter. E a Libertadores trouxe o que costuma trazer às noites da sudamérica.

Crédito: Ricardo Duarte / Internacional.

Talvez… talvez… essa crônica faça mais sentido para quem mora em cidades um pouco mais cosmopolitas, onde há migrantes de várias terras e línguas, próximas e distantes, ou mesmo para todos aqueles que apreciam a aventura e a diferença.

Porto Alegre. Noite de Inter na Libertadores. Gosto de pensar que a pessoa típica a combinar esses elementos – Porto Alegre, Inter e Libertadores – é aquela vinda da classe trabalhadora, nativa da capital gaúcha ou não, e que encara uma decisão como esta de hoje contra o River com a mesma raça que busca o pão a cada alvorecer, a cada dia que nasce.

O elemento noite serve para conectar esse espírito, em que todos andam para lá e para cá, com diferentes rostos, roupas e trejeitos, indo para casa, para os botecos, mas principalmente para Beira-Rio, onde, desde o espetáculo das “Ruas de Fogo”, como diria Milton Nascimento em “Os Bailes da Vida”: “Cantar era buscar o caminho que vai dar no sol”.

Essa música é linda demais. Segue a trajetória do artista na busca do sonho de viver de cantar ou tocar um instrumento. Em síntese, a letra traz o músico, diferente do que às vezes alimenta o imaginário, como um trabalhador como qualquer outro, e que por isso é povo e, logo, tem também o dever de estar onde ele povo está.

O legal do futebol é que nessas horas de Copa as diferenças se misturam. Todo mundo envolvido é artista, trabalhador, torcedor e atleta ao mesmo tempo.

O torcedor canta como um louco apaixonado e adquire o vigor de um lutador de MMA. É aquele atleta meio do bizarro também, que submete o corpo a umas superstições e cria estratégias insanas para poder estar no estádio

O conceito de atleta fica menos laboral e científico também. Nessas horas o cara esquece um pouco que pode ter lesão. Adquire a glória quem entra em simbiose com o espetáculo como um todo.

Neste 8 de agosto, Porto Alegre foi Porto Alegre. Inter foi Inter. E a Libertadores trouxe o que costuma trazer às noites da sudamérica. Não haverá silêncio enquanto todos puderem se confundir em ser jogadores, torcedores, artistas e trabalhadores. A Libertadores segue com a roupa encharcada e a alma repleta de chão.

O relato do jogo rende uma outra crônica. 50 mil pessoas no Estádio. Foi o pacote Coudet. Em termos de emoção, lembrou a final da Copa do Mundo entre Argentina e França. Intensidade lá em cima, idas e vindas, medo e euforia. Ajustes com o destino.

Nessa parte mais analítica, a opção de Coudet por Wanderson, talvez apostando no jogo agressivo, não ajudou o time a controlar a bola. Vieram chances com Enner Valência porém não concluídas. O juiz não contribuiu também, remontando a situações recorrentes em jogos da Libertadores envolvendo argentinos. Aos 35, ele erroneamente não viu pênalti em Bustos.

A não marcação baixou o ânimo do Inter e o primeiro tempo acabou com o River com mais controle. Mas algo mudou. Os erros do juiz trouxeram a torcida e o banco de reservas colorado para pressionar o árbitro. Todo mundo sentia que era dia de mudar a história.

No segundo tempo, o Inter veio para vencer e em dois gols de bola parada, um em que Mercado colocou nas redes e outro em que Alan Patrick chutou direto, abriu 2 a 0. Foi quando a esperança criou mais ares de realidade e a etapa de extrema tensão tomou conta, em que com certeza os colorados pensavam se o banho de água fria de eliminações recentes viria.

E a oscilação veio. O River descontou com Rojas e jogo foi para os pênaltis. Na decisão, ninguém errava. As cobranças foram para as alternadas. Em uma cobrança do River, o juiz viu dois toques do jogador da equipe Argentina e o gol foi anulado. A definição ficou para De Pena, que já havia passado pela mesma situação do jogador do River, o que criou ares de acerto com o destino. Mas De Pena acertou a trave. Mais ares de tragédia. Porém hoje não era dia de tristeza para o Inter. O River voltou a errar e o goleiro Rochet pegou a bola para cobrar e converteu. Beira-Rio em êxtase.