A Polícia Civil deflagrou uma operação contra uma quadrilha especializada em um golpe onde uma suposta empresa prometia investimentos no mercado de ações com a promessa de altos ganhos. A estimativa é que ao menos 4 mil pessoas tenham sido vítimas do “Golpe do falso investimento”, como o caso vem sendo tratado. Os prejuízos superam a cifra dos R$ 20 milhões. Ao menos oito envolvidos nos estelionatos foram presos.
A Operação Trapaça foi deflagrada no Rio Grande do Sul, em São Paulo e em Santa Catarina. Ao todo, 150 policiais civis executam 11 mandados de prisão temporária, 21 mandados de busca e apreensão residencial, 19 mandados de busca e apreensão de veículos , bloqueio em contas bancárias de 11 pessoas físicas e 3 pessoas jurídicas, além do bloqueio de imóveis de 11 pessoas físicas e 3 pessoas jurídicas.
No Rio Grande do Sul, os mandados se concentram na cidade de Santo Antônio das Missões, na região Noroeste. O município foi alvo do grupo criminoso, que centralizou as suas atividades por alguns meses, lesando centenas de pessoas.
Em Santa Catarina, local onde a maior parte do grupo criminoso reside, foram cumpridos mandados nas cidades de Tijucas, Porto Belo, Balneário Camboriú, São Lourenço do Oeste e Itapema. Mandados também foram executados em três endereços na cidade de São Paulo, onde um dos integrantes do grupo reside.
A Operação Trapaça teve a participação de policiais da Delegacia de Polícia de Santo Antônio das Missões, Draco de Bagé, Draco de Passo Fundo, Draco de Santiago, Delegacia de Polícia de Três Passos e de agentes de inteligência do DPI (Departamento de Polícia do interior). Em Santa Catarina, a ação é apoiada pela Delegacia Regional da Polícia Civil de Balneário Camboriú e em São Paulo pelo Deic da Polícia Civil paulista.
Como agia a quadrilha
Dois delegados da Polícia Civil encabeçam a investigação contra a organização criminosa: Heleno dos Santos, titular da Draco de São Luiz Gonzaga, e o Delegado Gerson de Assis, titular da Delegacia de Polícia de Santo Antônio das Missões. Eles relatam que o caso foi descoberto após várias vítimas procurarem a Polícia Civil reclamando de uma empresa que prometia investimentos no mercado de ações. Eram prometidos “altos ganhos” no sistema financeiro.
Segundo a polícia, o golpe ocorria a partir de uma plataforma digital de investimentos on-line chamada “Genesis Finance Limited”, que usava o nome parecido com outra empresa do ramo financeiro. A investigação aponta que o objetivo do nome parecido era, justamente, enganar as vítimas. A empresa que teve o nome copiado não tem relação com os fatos apurados.
As vítimas eram convidadas a baixar um aplicativo, chamado segundo a polícia de “Genesis.vet”, para o seu smartphone. Ao ingressar na plataforma, eram solicitados dados pessoais. Documentos também deveriam ser anexados. Na sequência, a pessoa recebia um link para aderir a grupos de WhatsApp, onde recebia “orientações de como investir”. Os delegados apontam que havia incentivo para que as vítimas investissem rapidamente na plataforma.
Os golpistas usavam linguagem técnica e mesclavam o uso de aplicativos legítimos com o uso de aplicativos falsos. Havia o uso regular de apps para a conversão de moeda estrangeira, por exemplo, culminando com a transferência de quantias variadas em dinheiro para os criminosos. As transferências ocorriam via PIX, por TED (transferência eletrônica disponível) ou boletos, todos gerados a partir de uma plataforma também regular, tudo de modo a parecer que as transações eram feitas sempre a partir de sites e aplicativos seguros.
Sem saber que estavam caindo em um golpe, as vítimas usavam os códigos PIX e boletos, acreditando que estavam realmente fazendo investimentos. No entanto, os valores eram diretamente enviados para as contas dos criminosos ou das empresas por eles criadas. Há indicativos de que grande parte do dinheiro era depositado em contas localizadas no Exterior.
Golpistas ostentavam “retornos financeiros excepcionais”
No intuito de enganar as vítimas e fazer que elas colocassem dinheiro na plataforma, os golpistas agiam como figuras bem-sucedidas. Os criminosos enalteciam os retornos financeiros excepcionais e rápidos da plataforma “Genesis”, segundo a investigação. Algumas vezes, eles exibiam, ainda, veículos e bens variados supostamente adquiridos com os altos e falsos retornos das supostas aplicações. Porém, conforme os delegados, a ostentação era, na verdade, com o dinheiro das próprias vítimas do golpe.
A investigação obteve dados que indicam que os criminosos criaram pelo menos três empresas de fachada para o desvio dos valores obtido das vítimas. Os criminosos ainda criavam sites falsos, geralmente em provedores do exterior, que parecem legítimos, para onde as vítimas eram atraídas com promessas de altos ganhos.
Os golpistas também criaram uma pessoa fictícia, chamada de Kelly, a quem se referiam no grupo de WhatsApp como sendo a “chefe” da empresa “Genesis.vet”. Em mensagens e áudios postados nos grupos, os investigados agradeciam a esta pessoa “pelos altos retornos obtidos e bens adquiridos”.
Vítimas do golpe devem procurar a Polícia e registrar ocorrência
Os delegados Heleno e Gerson apontam que a grande parte das vítimas sente medo ou até vergonha de procurar a Polícia Civil. No entanto, com a divulgação do caso, a tendência é de que os registros policiais aumentem.
Cerca de pouco mais de 50 vítimas já efetivaram registros de ocorrência policial nos estados do RS, SC e SP. Isso significa que a maioria das pessoas lesadas ainda não efetivou a devida e necessária comunicação policial sobre o crime. O registro de ocorrência policial é um valioso instrumento de prova para a devida responsabilização criminal dos golpistas, possibilitando, ainda, o ressarcimento mais rápido e efetivo das vítimas.