[NOTÍCIA EM ATUALIZAÇÃO] – O Conselho de Sentença formado para o julgamento do médico Leandro Boldrini formou maioria e condenou o réu. Ele foi sentenciado a uma pena de 31 anos e 8 meses de reclusão, em regime inicial fechado. Também foi aplicada pena de 10 dias multa. A leitura da sentença foi feita pela juíza presidente do tribunal do júri, Sucilene Engler Audino, no Salão do Júri do Foro da Comarca de Três Passos, onde foi realizado o julgamento.
O júri deliberou durante o período da tarde desta quinta-feira (23) sobre a participação de Boldrini no planejamento e execução do homicídio de Bernardo, na ocultação do cadáver da criança e também sobre o crime de falsidade ideológica, ao registrar ocorrência policial sobre desaparecimento sabendo que o menino estava morto.
Ele foi condenado pelos crimes de homicídio quadruplamente qualificado e falsidade ideológica. Foi absolvido da acusação de ocultação de cadáver. A pena por homicídio foi estipulada de 30 anos e 8 meses. Pelo crime de falsidade ideológica, recebeu 1 ano de reclusão e 10 dias de multa.
Enquanto que o Ministério Público pediu a condenação do réu, com pena máxima, os advogados de Boldrini defenderam a sua inocência e absolvição. Em 2019, ele havia sido condenado a 33 anos e 8 meses de prisão, sendo 30 anos e 8 meses por homicídio, 2 anos por ocultação de cadáver e 1 ano por falsidade ideológica.
Boldrini acompanhou o primeiro dia de julgamento, mas, na terça-feira, foi solicitado atendimento médico e ele foi dispensado de permanecer em plenário. Hoje pela manhã, a defesa dele comunicou que o réu não estava em condições de ser interrogado e ele retornou ao Presídio de Ijuí, onde permaneceu nos últimos dias.
O caso Bernardo
Bernardo Uglioni Boldrini foi dado como desaparecido em 4 de abril de 2014, uma sexta-feira. O registro do seu desaparecimento só foi realizado pelo pai, o réu Leandro Boldrini, na noite de domingo, 6 de abril de 2014. Ele também foi até uma rádio local e fez um relato que o menino havia desaparecido, dando o número da polícia para quem tivesse mais informações sobre o possível desaparecimento.
As buscas da Polícia Civil começaram cedo da manhã do dia 7 de abril, uma segunda-feira com três hipóteses: homicídio, sequestro ou desaparecimento voluntário. Os policiais fizeram uma visita na casa onde Bernardo morava e, no local, encontram as roupas, a mochila e outros pertences do garoto no quarto. O controle do portão da residência não foi localizado nos itens do menino.
Depois os agentes, vão até a escola, onde são apresentados a um quadro de desestruturação familiar, onde o menino era rejeitado pelo pai e madrasta, Graciele Ugulini. Vizinhos, colegas de escola e seus familiares são ouvidos. No mesmo dia, Leandro volta a realizar cirurgias eletivas.
Nas horas e dias seguintes, a investigação avança levantando vários indícios. O primeiro, que Graciele foi multada, no dia 4 de abril, a caminho de Frederico Westphalen, uma cidade a 80 quilômetros de distância de Três Passos. O policial que aplicou a multa diz ter visto o menino com vida dentro do carro. A investigação consegue identificar que Bernardo foi levado pela madrasta até a cidade, junto de Edelvania Wirganovicz, uma amiga dela.
As duas mulheres passam a se tornar suspeitas e dão depoimentos com versões desencontradas dos fatos: ora que o motivo da viagem seria a compra de uma TV, ora ver um “namorado” de uma delas; e, por fim, ir até uma benzedeira. Leandro, por sua vez, diz em depoimento que a madrasta levou Bernardo à cidade vizinha para comprar um aquário e peixes.
Um mandado de busca é cumprido no imóvel e o controle do portão é localizado junto dos itens escolares do menino. Interceptações telefônicas entre Graciele e Edelvania passam a apontar uma combinação de álibis entre elas.
A polícia consegue imagens das câmeras de um posto de gasolina localizado ao lado do prédio onde Edelvânia morava no dia 4 de abril, dia que Bernardo desapareceu. As câmeras captaram o momento em que o menino entra no Fiat Siena de Edelvania e, depois, quando elas voltam sozinhas. Também há imagens do carro passando em uma estrada rumo ao interior do município e, pouco tempo depois, voltando. Após isso, Graciele entra em uma loja de eletroeletrônicos e compra uma televisão. Minutos depois da compra, ela liga para Leandro.
Outra descoberta da polícia é que o casal vai a uma festa em Três de Maio no sábado à noite, 5 de abril de 2014. No domingo de manhã, 6 de abril de 2014, Leandro fez duas ligações para Bernardo, mas elas não se completam. Na quarta-feira (9/4/2014), Leandro volta a atender pacientes em seu consultório.
Nos dias seguintes, a polícia consegue identificar indícios de um possível envolvimento de Edelvania no desaparecimento. Ela é chamada a depor no dia 14, uma segunda-feira, e, quando confrontada, delata todo o esquema. Bernardo foi morto por uma superdosagem de midazolan, medicação de uso controlado. Seu corpo foi enterrado em uma cova às margens do rio Mico, em Frederico Westphalen. Ela leva os policiais até o local, mas é necessário ajuda do Corpo de Bombeiros para a retirada do cadáver, que foi coberto com soda cáustica.
Simultaneamente, Leandro e Graciele são chamados até a Delegacia de Três Passos, onde são novamente inquiridos. Após os policiais confirmarem a localização do corpo do menino, o casal recebe voz de prisão. Quando o médico é comunicado, pergunta se havia provas contra ele.
Conforme a acusação, Leandro é o autor intelectual do crime. Ele e Graciele não queriam dividir com Bernardo a herança deixada pela mãe dele – Odilaine, que morreu em 2010 – e o consideravam um “estorvo” para o novo núcleo familiar. Graciele foi apontada como a executora do homicídio, assim como Edelvania.
O casal teria oferecido dinheiro para Edelvania, que seria usado compra de um apartamento, para auxiliar na execução do crime. A cova onde Bernardo foi enterrado teria sido aberta por Evandro Wirganovicz, irmão de Edelvania, o quarto condenado pelo homicídio.
O primeiro julgamento
O primeiro julgamento do caso Bernardo ocorreu em março de 2019, em Três Passos. Os quatro réus no processo criminal foram condenados. A madrasta Graciele Ugulini, a 34 anos e 7 meses de reclusão; a amiga dela, Edelvania Wirganovicz, a 22 anos e 10 meses; e seu irmão, Evandro Wirganovicz, a 9 anos e 6 meses.
Leandro Boldrini foi condenado a 33 anos e 8 meses de prisão, em regime incial fechado. Em dezembro de 2021, por quatro votos a três, os desembargadores do 1º Grupo Criminal do TJ-RS (Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul), acolheram recurso de embargos infringentes do réu. A decisão determinou que ele fosse julgado novamente. Os magistrados apontaram que houve “excessos” na conduta da promotoria durante o interrogatório dele em plenário, em 2019.
O desembargador Honório Gonçalves da Silva Neto afirmou, em seu voto, que “a acusação […] se valeu da oportunidade da realização de questionamentos, contestando declarações anteriores prestadas pelo réu, fazendo alusão a dados informativos que, no seu entender, as contrariavam, afirmando que esse não falava a verdade”. O relator concluiu que é “inafastável, assim a conclusão de que houve quebra da paridade de armas, pois não teve a defesa a oportunidade de se contrapor à argumentação […] afigurando-se prejuízo suportado pelo réu, com a utilização do interrogatório para antecipação da acusação”.
Embora tenha sido anulado o julgamento de Leandro, a prisão preventiva não foi revogada e ele permanceu preso durante todo este período.