O Ministério Público do Rio Grande do Sul emitiu, nesta terça-feira (31), uma nota de esclarecimento sobre a série “Todo dia a mesma noite”, produção ficcional do Netflix que retrata a tragédia na Boate Kiss, vitimou 242 pessoas, em janeiro de 2013, em Santa Maria.
Baseada no livro homônimo da jornalista Daniela Arbex, a série do Netflix retrata, em formato de encenação, o incêndio. A nota vem a publico após um grupo de parentes das vitimas declarar que pretende processar a marca por exploração financeira da tragédia.
Já Associação dos Familiares de Vítimas e Sobreviventes da tragédia de Santa Maria publicou uma nota defendendo a exibição do conteúdo.
O Ministério Público do Rio Grande do Sul ressalta que série da Netflix pode desinformar opinião pública.
Confira a nota do Ministério Público na íntegra
“O Ministério Público do Estado do Rio Grande do Sul, considerando o interesse público e a realidade dos fatos envolvendo um caso ainda sub júdice, vem a público manifestar-se sobre a série intitulada ‘Todo dia a mesma noite’, produzida e veiculada pela empresa Netflix.
Mesmo cientes de que se trata de uma ficção, é nossa obrigação, como instituição pública, fazer alguns esclarecimentos. Ao apresentar tanto personagens quanto o Sistema de Justiça, seus ritos e regramentos de forma caricaturada em muitos momentos, a obra contribui para a desinformação e para a criação de uma memória coletiva contaminada por versões e por fatos que não ocorreram como apresentados. Além disso, a série explora, para o entretenimento, a dor de centenas de famílias, ainda enlutadas, que aguardam, em longa espera, a punição dos culpados. E o mais grave, a produção do canal de streaming expõe uma versão para a opinião pública de um caso ainda em tramitação, que poderá ser objeto de novo júri popular, possibilidade que a instituição luta com muito empenho para afastar.
O MPRS vem travando uma longa e árdua batalha para garantir a pronúncia dos quatro réus – responsáveis diretamente pelos homicídios –, a posterior condenação, ocorrida em julgamento realizado em dezembro de 2021 e, atualmente, a reversão da anulação do júri por meio de recursos aos Tribunais Superiores.
Vale lembrar que, desde o início, a instituição vem atuando não só para a condenação, mas para garantir a prisão dos culpados. Além de presos preventivamente por aproximadamente três meses em 2013, foi a partir de recurso do MPRS apresentado ao Supremo Tribunal Federal que os quatro réus voltaram para prisão em 2022 e lá ficaram por cerca de oito meses, cumprindo pena resultante de suas condenações pelo Tribunal do Júri, até a soltura determinada pela Justiça a partir da anulação do julgamento.
Também oportuno destacar que, além dos denunciados por homicídio, outras 47 pessoas foram alvo de ações do Ministério Público, na medida de suas responsabilidades, nas áreas criminal e cível, na Justiça comum e militar. Concluímos manifestando nossa solidariedade aos familiares e sobreviventes da tragédia e reiteramos nossa disposição e empenho para seguir lutando, o quanto for necessário, para que a justiça seja feita.