Esses dias estava relendo um livro da psicanalista Ana Suy, chamado “Amor, Desejo e Psicanálise”, e a epígrafe chamou-me a atenção. É uma frase da escritora Clarice Lispector, que assim diz: “Amor é quando é concedido para participar um pouco mais. Poucos querem amor, porque amor é a grande desilusão de tudo o mais. E poucos suportam perder todas as outras ilusões. Há os que se voluntariam para o amor, pensando que o amor enriquecerá a vida pessoal. É o contrário: o amor é finalmente a pobreza. Amor é não ter. Inclusive amor é a desilusão do que se pensava que era amor”. Desconheço o livro de Clarice em que consta essa citação.
O amor aparece primeiro como um recurso narcísico para dar conta da angústia da (não) realização do gozo. Mas, no fim, como diz a frase, só se estabelece no desvanecimento do ego e na posterior contemplação da realidade tal como ela é. Mas, mesmo assim, se desdobra na aceitação de que é a partir dessa realidade que se constrói a vida, se implicando no cotidiano uns dos outros.
No livro, a psicanalista se refere à nossa formação sentimental, no sentido mais edípico, para ficar na linguagem analítica. Mas lembrei dela para pensar a relação do torcedor com a seleção brasileira. Meu último texto havia sido sobre a importância da canarinho para nossa identidade enquanto povo.
Mas há esse contraste, de lado a lado, sobre o amor aos nossos símbolos, as nossas relações diárias com os concidadãos do país, e a própria realidade social que enfrentamos. Atualmente isso anda muito abalado e repleto de ruídos. Muitos brasileiros acompanham a Seleção abstraindo tudo isso, sem dúvida.
E quem sabe a equipe de Tite, Vini Jr e companhia, não seja esse elemento de sublimação temporária deste sentimento hostil e de uma tentativa de recriação madura do amor entre nós. Sem ingenuidade, sem esquecimento, mas ainda assim, amor.
No jogo de hoje, contra a Suíça, como já havia sido contra a Sérvia, esse amor foi posto à prova. A “utopia da brasilidade” tem enfrentado defesas sólidas, que testam a capacidade do torcedor de acreditar no desfecho alegre do carnaval.
Na etapa final, veio o gol de Casemiro, soberano Casemiro. O Brasil está classificado e nós ainda não nos desenganamos.
O jogo
O quadro do jogo estava desenhado desde o início. O forte da Suíça , como sempre, é a defesa extremamente sólida. O Brasil sentia falta de Neymar para buscar espaço entre linhas.
Tite optou por colocar Fred e adiantar Paquetá. Mas o jogo brasileiro era lento e a Suíça, quando escapava, causava certo temor.
A melhor chance do Brasil foi com Vini Jr, aos 26. Raphinha cruzou da direita e Vini entrou na área para finalizar. Mas ele não pegou bem e parou no goleiro Sommer.
Segundo tempo
No intervalo, Tite voltou com Rodrygo no lugar de Paquetá. E o jogador do Real Madrid melhorou o Brasil, ainda que o gol não chegasse.
Aos 12, entrou Bruno Guimarães no lugar de Fred. E o time evoluiu ainda mais. Aos 18, houve um gol de Vini Jr anulado.
Tite voltou a trocar. Colocou Anthony e Gabriel Jesus nos lugares de Raphinha e Richarlison. Era a força de ataque brasileira mobilizada contra uma Suíça, que resistia.
Até que aos 37, uma jogada “A la Madrid”, entre Vini Jr, Rodrygo, e que terminou em Casemiro, hoje no Manchester United. O volante brasileiro, que beira a perfeição, finalizou de primeira, da entrada da área, e estufou as redes de Sommer.
De novo alívio. E a Suíça estava rendida.
Situação e próximo jogo
Com o resultado, o Brasil está classificado para as oitavas de final com seis pontos ganhos. A Seleção brasileira só perde a liderança se for derrotada por Camarões e a Suíça vencer a Sérvia e tirar o saldo de gols.
Brasil e Camarões se enfrentam na sexta-feira (2) pela última rodada da fase de grupos. A partida será realizada às 16h, no Estádio Lusail.
Escalações
Brasil
Alisson; Éder Militão, Marquinhos, Thiago Silva e Alex Sandro (Alex Telles); Casemiro, Fred (Bruno Guimarães) e Lucas Paquetá (Rodrygo); Raphinha (Antony), Richarlison (Gabriel Jesus) e Vinícius Júnior – 4-4-2– Técnico: Tite
Suíça
Sommer; Widmer (Frei), Akanji, Elvedi e Rodriguez; Freuler e Xhaka; Rieder (Steffen), Sow (Aebischer) e Vargas (Fernandes); Embolo (Seferovic) – 4-2-3-1– Técnico: Murat Yakin
Arbitragem
Árbitro: Ivan Barton (El Salvador)
Auxiliar: David Moran (El Salvador)
Auxiliar: Zachari Zeegelaar (Suriname)
VAR: Drew Fischer (Canadá)
Cartões amarelos
Brasil: Fred
Suíça: Rieder