Há um vídeo bem conhecido na internet em que o célebre jornalista e escritor uruguaio Eduardo Galeano fala sobre a função da utopia. Disse ele: “a utopia está no horizonte. Eu sei muito bem que nunca a alcançarei. Se eu caminho 10 passos, ela se afasta 10 passos. Pois a utopia serve para isso, para caminhar”, conclui em tom de extremo lirismo. A frase faz menção ao direito de sonhar, ao direito ao delírio que todos temos.
Durante muitos anos o futebol feminino não teve espaço no Brasil. Ter os olhos da sociedade voltados para a modalidade foi o sonho, a utopia, de muitas mulheres e admiradores do esporte ao redor do País. Neste mesmo Campeonato Brasileiro de 2022 mesmo, muitas partidas, inclusive de clubes de expressão, foram disputadas em estádios modestos, sem a devida valorização.
Pois chegou a final deste ano, e o Inter, único clube fora de São Paulo nas semifinais, se gabaritou para enfrentar o Corinthians na decisão. A partida de ida foi neste domingo (18), no Beira-Rio. E a torcida colorada foi em peso ao Gigante prestigiar as Gurias Coloradas.
Houve quebra de recorde da história do futebol feminino brasileiro. Mais de 36 mil pessoas compareceram ao Beira-Rio. Foi um êxtase. A emoção sublimatória de ver um espaço tradicionalmente ocupado pelos homens ser agora das mulheres também.
No campo, havia até mesmo uma discussão sobre como a equipe colorada reagiria a este apoio. E só ajudou. As Gurias Coloradas deram um show de entrega do início ao fim, em uma belíssima simbiose entre time e torcida.
No fim, a vitória não veio. Mas o título está em aberto. Sem dúvida, o jogo deste domingo no Beira-Rio é um acontecimento histórico para a modalidade no Rio Grande do Sul. As conquistas virão. Questão de tempo. A glória da utopia está no horizonte, por isso a caminhada continua.
O jogo
O Inter começou melhor no primeiro tempo e teve boas chances. O Corinthians, que tinha muita qualidade, equilibrou em seguida e o jogo ficou bastante disputado. Até que, aos 31, Millene Fernandes abriu o placar. Ela recebeu uma bola de Duda Sampaio, que havia ganhado uma disputa de bola na lateral direita do campo, dominou e chutou para o gol. A goleira Lelê quase espalmou, mas não foi o bastante. Inter na frente.
O Inter não recuou. Permaneceu tentando fazer mais gols no Corinthians, tanto no restante do primeiro tempo, quanto no início da etapa final. Porém, aos 12, quando o Corinthians pouco fazia, Tarciane lançou uma bola longa e encontrou Jheniffer, que avançou e chutou na saída da goleira May. Tudo igual.
A partir daí, a sensação é de que o Inter foi cansando e o Timão foi se impondo na partida. A situação piorou quando Isabela, do Inter, foi expulsa por ter chegado de sola na adversária
Mas o gol adversário não veio. Dado o quadro dos minutos finais, a sensação foi de que o empate ficou de bom tamanho. E de que o Inter está vivo para a volta.
Situação e próximo jogo
Vitória simples da o título a qualquer uma das equipes. Empate leva a decisão aos pênaltis. O jogo da volta ocorre no próximo sábado (24) às 14h, na Neo Química Arena.
Escalações
Inter
May; Capelinha (Tamara Bolt depois Eskerdinha), Bruna Benites, Sorriso e Isabela; Ju Ferreira, Duda Sampaio e Maiara (Isa Haas); Fabi Simões, Millene Fernandes e Lelê (Bia Gomes) – 4-3-3– Técnico: Maurício Salgado.
Corinthians
Lelê; Yasmim, Andressa Pereira, Tarciane e Tamires; Gabi Morais (Vic Albuquerque), Adriana (Juliete), Gabi Zanotti, Jaque Ribeiro e Gabi Portilho (Miriã); Jheniffer –4-5-1– Técnico: Arthur Elias.
Arbitragem
Árbitra: Deborah Cecilia Cruz Correia (PE)
Auxiliar: Brigida Cirilo Ferreira (AL)
Auxiliar: Bárbara Roberta da Costa Loiola (PA)
VAR: Rodrigo Carvalhaes de Miranda (RJ)