Era um jogo para voltar à normalidade. O clima tenso de final criado para a partida contra o Cruzeiro daria lugar à pura alegria de ver o Tricolor em campo nas restantes rodadas protocolares da Série B. O empate contra a equipe mineira, de certa forma, deixou dito que o título não é mais possível. Sobra para o Grêmio encerrar com dignidade a competição, reatando os laços com a torcida.
E a Arena foi disposta a esquecer a relação rançosa que vive com o técnico Roger Machado. O treinador, apesar de ter o acesso encaminhado, vive sob pressão por um melhor desempenho. A cada vacilo, surge a sombra de Renato.
Era dia de mostrar que o torcedor quer simplesmente desfrutar do time, ser feliz na arquibancada alentando, seja em que setor do estádio for. O apoio vinha inclusive da arquibancada norte, liberada nesta sexta-feira pela justiça após os episódios de violência do domingo.
E hoje parecia que o time ia corresponder. Desde o início, o Ituano penava para oferecer resistência. A sensação é que o gol Tricolor sairia a qualquer momento. O Grêmio procurava os espaços com calma, enquanto a Arena era toda alento.
Diego Souza, em uma cabeçada, exigiu boa defesa de Jefferson, aos 9. Aos 20, Jefferson fez nova defesa, em chute de Biel.
Mas o gol não saía. O ituano reagiu na partida. O primeiro tempo acabou, veio a etapa final e a atmosfera já não era a mesma. Para acabar com a tranquilidade, o Ituano acertou uma cabeçada na trave aos 11. Aos 31, novamente quase sai um gol do Ituano, com Mário Sérgio. O Grêmio respondeu com Guilherme.
Até que o Ituano marcou aos 41, com o zagueiro Lucas Dias. O clima de felicidade, que já dava sinais de enfraquecimento, foi pelos ares. A Arena tinha raiva e passou a gritar por Renato. O jogo acabou e a Arena era só vaias.
Situação e próximo jogo
O Grêmio continua na 3ª posição, com 44 pontos. O Tricolor pode ser ultrapassado na rodada pelo Vasco, que joga domingo contra o Bahia. O próximo jogo do Tricolor gaúcho é contra o Criciúma, na terça-feira (30). A partida será realizada no Heriberto Hülse, às 21h30.
Reflexão sobre a arquibancada norte
A passagem para a modernidade se caracteriza, grosso modo, pela crença de que através da razão poderia-se chegar ao equilíbrio social. A Justiça, a imprensa, o poder de polícia, o Estado como um todo. Todos esses aparelhos atuariam conjuntamente para que houvesse paz na sociedade.
Mas, desde a Revolução Francesa, talvez o evento que marca esta transformação, este ideal da razão não foi suficiente para evitar uma miríade de guerras. O processo de racionalização foi sangrento. De parte a parte, uma face outra do humano se mostrava.
No século XX, na área do conhecimento, veio a psicanálise e propôs que talvez o “buraco” fosse mais embaixo. “Não somos senhores em nosso próprio lar”. O ideal começava a dar sinais de falência e uma nova visão do humano ganhava força.
Passaram-se os anos e essa discussão ainda segue. E nos mais variados campos. Até mesmo no futebol. No último domingo (21), o Grêmio empatou com o Cruzeiro na Arena pela Série B, mas, como se sabe, o jogo ficou marcado pela violência na arquibancada.
Nesta hora, os discursos são sempre parecidos. As pessoas cobram maiores punições. É preciso conter as pessoas, do contrário não se sabe do que elas seriam capazes. Mesmo assim, essas punições nunca encontram medida.
Neste caso do Grêmio, sobrou para a arquibancada, que chegou a ser interditada. O que mostra que, de certa forma, a liberdade é retorcida em nosso país. O torcedor que quer usufruir do espetáculo, exercer sua predisposição para o lúdico, paga.
Assim, a punição parece vir sempre para quem não merece. Enquanto o brasileiro vive uma realidade de usurpações diárias de seus direitos. Neste contexto de contradições surge a pergunta: o que a razão fez da nossa natureza?