As comunicações diretas entre a Agência Internacional de Energia Atômica, organização autônoma dentro das Nações Unidas, e a central nuclear de Tchernóbil foram retomadas na noite desta terça-feira (19), informa em um comunicado o diretor geral do órgão, Rafael Mariano Grossi, nesta quarta-feira (20).
“O diretor acolheu com favor a retomada das comunicações telefônicas entre o SNRIU (Inspetoria Estatal para a Regulamentação Nuclear das Ucrânias) e a central de Tchernóbil. Afirmou que esse é mais um passo importante no processo de retomada de controle da normalidade da Ucrânia no sítio do incidente de 1986, onde agora estão várias plantas de gestão de resíduos radioativos”, diz o comunicado.
Tropas militares da Rússia haviam tomado o controle da central nuclear em 24 de fevereiro, primeiro dia da guerra na Ucrânia, e permaneceram no local até 31 de março. No dia 10 de março, a AIEA informou que havia perdido todos os tipos de contato com o local. Apenas a SNRIU continuou recebendo relatórios por conta da gestão externa do sítio, mas sem o nível de detalhamento anterior.
“Essa era realmente uma situação não sustentável e é uma ótima notícia que agora a autoridade pode contatar diretamente a central quando necessário”, destacou ainda.
Além de comemorar a retomada das comunicações, o comunicado ainda informa que Grossi e uma comitiva da AIEA podem ir para Tchernóbil no fim desse mês para realizar análises de segurança nuclear e radiológica, fornecer equipamentos vitais e reparar sistemas da agência de monitoramento remoto das proteções da planta.
Sobre esses últimos sistemas, a AIEA informou que ainda não está recebendo a transmissão de dados remotos à distância de maneira automática, mas que eles estão sendo transmitidos normalmente para a SNRIU, que os envia para a agência.
Os temores em relação à central nuclear de Tchernóbil eram enormes tanto pelos riscos de vazamento de resíduos radioativos do grande acidente de 1986 como pelo excesso de trabalho dos técnicos – que chegaram a ficar semanas seguidas trabalhando sem parar.
Segundo Kyiv, os militares russos abandonaram a central nuclear após uma contaminação radioativa de muitos soldados, que escavaram trincheiras na chamada Floresta Vermelha, uma das áreas de maior radioatividade desde a década de 1980.
Os relatos apontam que muitos deles sequer sabiam que estavam em área contaminada e não usavam equipamentos de proteção. Agora, de acordo com os ucranianos, eles terão no máximo mais um ano de vida.
Já sobre os 15 reatores nucleares em operação na Ucrânia espalhados em quatro centrais, a AIEA informou que Kyiv tem sete deles no sistema de redes coligadas: dois na central de Zaporíjia, controlada pela Rússia, dois na de Rivne, dois na Ucrânia Meridional e um na central de Khmelnytsky.
Os outros oito estão fechados para manutenções de rotina ou deixados na reserva.