Apresentando-se como representantes de uma empreiteira do Rio de Janeiro interessados em colaborar na tragédia de Mariana (MG), um grupo falsificou documentos, alugou dez veículos, entre carretas e retroescavadeiras, trabalhou por dias na limpeza da lama e depois sumiu, levando quatro desses equipamentos e causando um prejuízo de R$ 2 milhões a empresas e trabalhadores da cidade.
Uma caminhonete que custava R$ 90 mil também foi furtada. As outras seis máquinas foram abandonadas –três delas com danificações na parte elétrica. Os possíveis golpistas deixaram dívidas em duas locadoras de veículos, um posto de gasolina, uma pousada e dez funcionários contratados.
O episódio foi relatado pelo prefeito de Mariana, Duarte Júnior (PPS), e pelos donos da pousada e das locadoras nesta quinta-feira (14), após a Polícia Civil em Ouro Preto (cidade vizinha a Mariana) ter aberto um inquérito para investigar o caso.
Segundo o prefeito, o grupo protocolou o pedido de serviço junto à área jurídica da prefeitura antes de começar as obras. “A empresa chegou no início de dezembro dizendo que ia disponibilizar máquinas para a tragédia”, afirmou Duarte Júnior.
Em janeiro, eles começaram a retirar a lama dos locais atingidos e trabalharam por uma semana. “Depois de uma semana, essas máquinas foram retiradas dizendo que seria feita a manutenção [e desapareceram]”, diz o prefeito.
Para fazer o serviço, eles alugaram o maquinário em Belo Horizonte e a caminhonete em Mariana, além de contratarem dez pessoas da região para trabalhar. Ninguém foi pago.
O equipamento tinha rastreadores, que foram desligados pelo grupo. No total, foram furtadas três retroescavadeiras e uma escavadeira hidráulica, além da caminhonete.
Dois dos possíveis falsários se hospedaram na pousada Arcádia Mineira, em Ouro Preto, onde deixaram uma conta de R$ 1.700 sem pagar. Eles andavam com uma terceira pessoa e se identificaram pelos nomes de Anderson Vieira, Lucas Cunha e Wagner Bosque.
“Nossa desconfiança sobre eles começou porque eles passavam o dia fora, mas consumiam tudo o que tinha no frigobar, o que não é comum”, afirmou o dono da pousada, Júlio Pimenta.
Pimenta afirma que os homens agiam com tranquilidade. Saíam pela manhã com uniformes de engenheiro e voltavam à noite, sujos de lama. O circuito interno do local gravou as imagens dos possíveis golpistas. A Polícia Civil confirma o furto e diz que investiga o caso.
De acordo com Duarte Júnior, não é a primeira vez que golpistas se aproveitam da tragédia ocorrida no dia 5 de novembro, que provocou a morte de 19 pessoas e deixou um rastro de lama que atingiu o Espírito Santo.
Segundo o prefeito, três pessoas tentaram, com cheques falsos, sacar entre R$ 15 mil e R$ 30 mil da conta da prefeitura em que estão depositadas as doações destinadas às vítimas do rompimento da barragem, mas não tiveram sucesso.