A trégua anunciada pela Rússia na cidade portuária de Mariupol nesta quinta-feira (31) foi realizada conforme o previsto e, até o momento, centenas de civis conseguiram fugir da localidade, confirma Kyiv.
O governo central ucraniano enviou 45 ônibus, com a parceria do Comitê Internacional da Cruz Vermelha, e informou que 17 deles já partiram em direção a Zaporíjia. Segundo a vice-premiê do país, Iryna Vereschuck, outros 28 veículos estão esperando autorização de passagem no posto de controle russo em Vasylivka, próxima ao município de destino.
“Vamos fazer todo o possível para assegurar que os ônibus cheguem a tempo e levem as pessoas que ainda não deixaram a cidade”, acrescentou Vereschuk que, durante a guerra, tem trabalhado mais na questão humanitária e dos corredores.
No entanto, apesar de informar que a trégua no corredor entre Mariupol-Zaporíjia está sendo respeitada, Vereschuk destacou que a cidade em si “continua a ser atacada pelos russos”.
A situação de Mariupol, cidade que tinha 400 mil habitantes antes da guerra, é considerada uma das mais graves da guerra iniciada pelos russos em 24 de fevereiro. Sitiada desde o início do conflito, a localidade está sem insumos básicos para sobreviver e depende desses acordos de trégua para poder receber alimentos, água e remédios e para evacuar civis.
A última estimativa do presidente Volodymyr Zelensky informava que cerca de 100 mil cidadãos ainda estavam presos em Mariupol e que 90% dos prédios foram destruídos.
Se a situação em Mariupol está mais calma nesta quinta-feira, outras cidades continuam a sofrer com ataques e combates.
Outras cidades
Em Chernihiv, cidade que está sob assédio intenso das tropas russas desde o dia 24 de março – antes os ataques eram mais esporádicos – há falta de água, problemas no fornecimento de energia elétrica ou calefação, informou a ONG Human Rights Watch nesta quinta.
“Os civis de Chernihiv ficaram presos por dias, sem acesso aos serviços básicos e sem meios de fuga. Tudo isso enquanto vivem sob a ameaça constante dos ataques russos. As forças russas, junto às ucranianas, devem adotar as medidas necessárias para permitir que os civis que desejem possam deixar a cidade em segurança e para garantir que as necessidades básicas dos civis permaneçam em níveis satisfatórios”, disse o pesquisador da HRW, Richard Weir.
Os russos, por sua vez, dizem que os civis que ficaram presos na cidade sofrem por conta da Ucrânia, que não estaria dando “caminhos seguros” para que seus cidadãos saiam da localidade.
Segundo o coronel-general Mikhail Mizintsev, chefe do Centro de Gestão de Defesa Nacional da Rússia, em entrevista à agência Tass, o governo está mantendo a ajuda humanitária e já enviou mais de 6,5 toneladas de alimentos e medicamentos desde 2 de março.
Chernihiv, ao lado de Kiev, teve a promessa de trégua anunciada por Moscou durante as tratativas para um acordo de paz com os ucranianos na última terça-feira (29). Apesar da promessa, o governo do país vê a medida com ceticismo e denuncia que ataques pontuais continuam a ser realizados.
As forças ucranianas, por sua vez, informaram que liberaram Sloboda, também na região de Chernihiv, após a localidade ser dominada pelos russos.
Outro palco de um grande ataque russo nesta semana, a cidade de Mykolaiv informou que subiu para 16 o número de vítimas de uma ação contra o prédio da sede do governo regional, ocorrido há dois dias.
“Os socorristas retiraram 15 corpos dos escombros e hoje uma pessoa morreu na unidade de terapia intensiva”, informou um boletim das autoridades sanitárias locais nesta quinta. Com isso, são 16 mortos e 21 feridos no ataque.
Kharkiv, segunda maior cidade do país antes da guerra, e sua região administrativa também vem sofrendo com a intensificação dos ataques russos.
Nesta quinta, a mídia local informou que a pequena localidade de Derhachi, que fica na região, foi “destruída” em uma ação que deixou um morto e três feridos.
“Prudyanka, Slatine, Bezruky e, sobretudo, Derhachi foram atingidas. Um dos prédios administrativos do conselho municipal de Derhachi foi completamente destruído. Muitas casas privadas em vários bairros sofreram graves danos. Diversas estradas não têm mais postes de eletricidade”, informou o Conselho por meio do “Pravda”.
Já a agência Unian informa que um menino de 11 anos e sua mãe foram encontrados mortos nos escombros de uma casa no distrito de Izium, em Slobozhanske, também na região de Kharkiv. Eles teriam morrido há algumas semanas, mas os corpos foram encontrados só nesta quinta porque os ataques aéreos russos deram uma pausa.
Na área separatista de Donetsk, o jornal “Pravda” informou que novamente foram usadas bombas de fósforo em ações militares na parte central do território. “Os russos dispararam contra Maryinka, Krasnohorivka e Novomykhailivtski, na região do Donbass, com projéteis de fósforo. 11 pessoas ficaram feridas e foram levadas ao hospital, sendo que quatro delas eram crianças”, diz a matéria citando fontes locais.
Após os Estados Unidos informarem que parte das tropas russas estão deixando a central nuclear de Chernobyl, tomada pelos soldados em 25 de fevereiro, a vice-premiê afirmou que a situação no local é “catastrófica”.
“Os russos não têm o controle da situação e estamos correndo o risco de efeitos de amplo alcance. A área da central precisa ser desmilitarizada. Eu escrevi uma carta de próprio punho para o secretário-geral da ONU, António Guterres, para pedir isso”, disse Vereschuck.
Fronteira da Polônia e testes
A Ucrânia e a Polônia estariam negociando sobre o possível fechamento completo da fronteira das duas nações com Belarus, país aliado da Rússia e que permite que tropas russas avancem pelo território ucraniano, informou a agência de notícias Ukrinform.
A mídia ainda informa que conversas semelhantes estão sendo tratadas com os Países Bálticos, como Estônia, Lituânia e Letônia.
Todas essas nações temem que, depois da Ucrânia, o presidente Vladimir Putin ordene ações militares em seus territórios.
Já o Ministério da Defesa da Rússia, em nota divulgada pela agência estatal Interfax, vai fazer testes com as forças de mísseis estratégicas, um ramo separado das Forças Armadas que controla os ICBM (mísseis balísticos internacionais terrestres).
Os exercícios devem ser feitos em cidades da região de Orenburg, que ficam relativamente perto da fronteira com o Cazaquistão, e terão a presença de três mil soldados.