A Polícia Civil deflagrou, na manhã de hoje, a Operação Caritas operação para investigar crimes no Executivo e no Legislativo de Canela, na Serra gaúcha. Há suspeita de desvio de verbas públicas, fraudes em contratos e enriquecimento ilícito de agentes políticos e servidores da Prefeitura Municipal e da Câmara de Vereadores do município.
Foram presos o presidente da Câmara de Vereadores da cidade, Alberi Galvani Dias, o secretário de Obras do município Luís Cláudio da Silva (conhecido como Ratinho) e o interventor do Hospital de Caridade, Vilmar da Silva dos Santos. Todos são suspeitos de envolvimento no esquema, que envolvia a prática de “rachadinha” – a obrigatoriedade de um servidor devolver parte do salário para o “padrinho” político – além de irregularidades nas compras realizadas pela Prefeitura. Os três políticos estão no Presídio Estadual de Canela.
Além deles, foram afastados dos cargos de forma cautelar pela Justiça o secretário de Turismo Angelo Sanches Thurler, o subsecretário de Obras e vice-presidente do MDB, Osmar José Zangalli Bonetti, e Denis de Souza, que ocupa cargo em comissão da Secretaria de Obras.
Ao todo, foram cumpridos 176 mandados judiciais em seis municípios do RS e duas em Santa Catarina. Além das prisões e afastamentos, as ações incluem busca e apreensão em residências e órgãos públicos, o bloqueio de contas bancárias e bens, além da quebra de sigilo bancário e fiscal. Nenhum dos investigados na operação é servidor concursado. Ou seja, todos são ou “cargos de confiança” ou ocupam cargo público no município.
A investigação começou em abril quando a polícia apreendeu material de construção que estaria sendo desviado da reforma do Hospital de Canela em um sítio de um ex-servidor da Prefeitura. O homem era dono de empreiteira que prestava serviços para o município. Os itens desviados estavam sendo usados em uma obra particular do suspeito.
Mas, ao ir puxando o novelo desse suposto desvio, os policiais encontraram indícios da criação de uma rede de corrupção utilizada para lavagem de dinheiro. Os policiais descobriram um esquema para fraudar as obras da Prefeitura e, assim, enriquecer às custas da população.
A Polícia Civil obteve na Justiça quebra de sigilos telefônicos e telemáticos, ou seja dados de mensagens em redes sociais e aplicativos de mensagens. Com os dados, os policiais conseguiram identificar como funcionava o esquema. Os investigados faziam orçamentos de fachada para supostas reformas no hospital ou em outros prédios públicos. Outras duas empresas de fachada, apresentariam orçamentos com valores maiores, para perder o contrato.
Com os orçamentos fraudulentos, o grupo criminoso vencia os contratos com a Prefeitura de Canela. Os contratos, ainda passariam pela presidência da Câmara de Vereadores do município serrano. Segundo a Polícia, era o presidente da Câmara de Canela que arranjava os documentos frios. Em mensagens interceptadas, Galvani Dias teria combinado os valores de um orçamento com outro participante do esquema.
Os investigadores suspeitam que entre os crimes praticados por essa rede estavam a falsificação de documentos, crimes em licitação, ocultação de bens, desvio de materiais de construção comprados para reforma do Hospital de Caridade, canalização de verbas, orçamentos fraudulentos em licitações e a “rachadinha”.
Funcionários eram obrigados a devolver salários
Outro ponto investigado é o esquema de devolução de salários por coação, a chamada “rachadinha”. Seriam movimentados cerca de R$ 20 mil por mês, sendo que cada funcionário público comissionado pelos integrantes da organização investigada tinha que devolver cerca de 10% do contra-cheque. Os policiais conseguiram fotos que mostram os investigados trocando fotos com maços de dinheiro.
A Polícia conseguiu identificar até a pessoa que seria a responsável por receber os valores em espécie. As devoluções aconteciam até em frente do prédio da Prefeitura de Canela. Valores em dinheiro e uma tabela de contabilidade, com menção a valores mês a mês, foram apreendidos na ação de hoje.