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Saiba quais cuidados especiais tomar durante o inverno

Médica alergista comentou ainda sobre riscos de desencadear uma crise alérgica e como agir nesses casos.

A temporada de frio chegou ao Rio Grande do Sul, neste momento, pessoas com doenças alérgicas devem tomar cuidados especiais.

Em entrevista, a médica alergista Jane da Silva falou sobre o impacto da temperatura e da queda na umidade relativa do ar, além de alguns cuidados que podem ser tomados, como higienizar os ambientes, manter salas e quartos arejados e intensificar os cuidados diários com higiene pessoal e tratamentos indicados pelos médicos.

Ela comentou ainda sobre riscos de desencadear uma crise alérgica e como agir nesses casos.

A temporada de frio está chegando em algumas regiões do país. Qual é o impacto desta mudança climática para quem tem alergias?

Jane – Pessoas com doenças alérgicas como asma, rinite e dermatite atópica sofrem muito com mudanças bruscas de temperatura. Particularmente no outono e inverno, essas doenças podem piorar (com exacerbações) por causa do frio.

Doenças não infecciosas, como alergias respiratórias e asma, por exemplo, são afetadas com temperaturas mais baixas?

Jane – Sim, em especial pessoas com asma e rinite concomitantes, que é bastante frequente. Inclusive, tem-se o conceito de vias aéreas unidas para explicar a influência dos sintomas nasais sobre os brônquios e vice-versa.

Junto com o frio, ocorre também uma queda na umidade relativa do ar. Esses dois fatores interferem em doenças respiratórias, pois tanto a mucosa nasal quanto a dos brônquios promovem umidificação e aquecimento do ar respirado.

O clima frio e seco exige mais das mucosas nasal e brônquicas, que adicionalmente, apresentam vasoconstricção como resposta do organismo ao frio, reduzindo a produção de muco que é auxiliar na proteção das mucosas. Assim, independentemente de haver doenças alérgicas respiratórias, o nariz e os brônquios são alvo durante outono e inverno e, se houver inflamação, como na asma e rinite, maior é a chance de ter exacerbação de sintomas nesses períodos.

Além de doenças alérgicas respiratórias, é comum também haver piora da dermatite atópica durante o outono e inverno. As pessoas tendem a tomar banhos mais quentes e prolongados, por causa do frio. Isso piora o ressecamento da pele e provoca muito mais coceiras. Ao usarem roupas guardadas e que não foram lavadas, têm contato direto com ácaros na pele, piorando a inflamação da dermatite.

Que cuidados pessoas com alergias devem ter nestes dias mais frios?

Jane – Com o clima frio e seco, percebe-se dois acontecimentos em paralelo: pessoas ficam mais em ambientes fechados (muitas vezes também fazem menos limpeza deste ambiente) e o ar torna-se mais concentrado em ácaros, fungos e pelos de animais, que estão em suspenção no ar. Naturalmente, vai ocorrer maior exposição aos alérgenos e, é nesse aspecto, que os cuidados devem ser redobrados.

Então, é importante que os ambientes estejam bem higienizados (passar aspirador e panos úmidos nos móveis e no chão) e ventilados. Preferencialmente que sejam usadas capas antialérgicas nos colchões e travesseiros para reduzir contato com ácaros e que as roupas que estavam guardadas sejam lavadas antes de serem usadas. Evite manter animais dentro de casa, especialmente no quarto.

Além disso, aumente os cuidados de higiene pessoal, com lavagens regulares das mãos, lavagens nasais com soro fisiológico e hidratação, ingerindo-se mais líquido e várias vezes ao dia. Aqueles com dermatite atópica devem intensificar a hidratação da pele com cremes e óleos corporais, especialmente após o banho.

 

Uma pessoa que nunca teve manifestação alérgica pode passar por determinada situação e “virar” alérgico? O frio pode ser um destes fatores?

Jane – As doenças alérgicas dependem da genética individual. Porém, esse não é o único fator determinante. A exposição ambiental, a alimentos e a micro-organismos, e ainda fatores psicossociais parecem também influenciar no surgimento das manifestações clínicas das alergias.

Assim, considerando o que foi comentado em questões anteriores, é possível sim, que alguém que nunca teve sintomas de doenças alérgicas, em função do clima frio e das exposições no período de outono e inverno, passe a manifestar uma doença alérgica, mesmo na vida adulta.

 

Quando uma pessoa deve procurar o serviço de saúde por conta de manifestações de alergias?

Jane – À medida que essas manifestações estão gerando desconforto e/ou prejuízo na vida diária e não estão melhorando com cuidados gerais de alívio e prevenção. Por exemplo, a rinite manifesta-se por espirros, coceiras (em nariz, olhos e garganta), secreção nasal clara e obstrução nasal (ou nariz entupido).

Se esses sintomas não aliviam com medidas de controle do ambiente (já citados) e lavagens nasais, ou estão piorando com sintomas fora desse padrão, esse é o momento de procurar o posto de saúde ou marcar consulta com especialista em alergia.

Em caso de asma, os sintomas são tosse seca irritativa (especialmente à noite e durante exercícios), falta de ar, chiado ou sibilos, e aperto, dor ou pressão no peito. Se a pessoa é reconhecidamente asmática e é acompanhada por um médico, deve seguir as orientações fornecidas para o momento de exacerbação. Se ainda não tem o diagnóstico de asma, é muito importante consultar um médico para o diagnóstico e a classificação da gravidade da doença.

Na asma moderada e grave, o paciente deve ser acompanhado por um especialista, que pode ser alergista ou pneumologista. As pessoas com asma requerem um cuidado adicional, porque se tiverem crises graves podem necessitar ir à emergência e até ser hospitalizadas. Asma, se grave e não tratada adequadamente, pode ser incapacitante e levar à morte.

Pessoas com dermatite atópica apresentam lesões avermelhadas e descamativas na pele, principalmente em áreas de dobras e na face, que coçam muito. Essas lesões, por causa da coçadura, evoluem com rachaduras e feridas e interferem muito nas atividades diárias, no trabalho e na escola. Assim, como na asma e na rinite, se a pessoa não tem o diagnóstico da doença, deve procurar o médico para cuidados específicos com medicamentos.

De acordo com a gravidade, se moderada a grave, também deve ser acompanhado por especialista que é o alergista ou o dermatologista. Medidas gerais de controle como banho morno e rápido uma vez ao dia, uso de cremes e óleos corporais logo após o banho e uso de roupas de algodão e preferencialmente claras são indicadas.