A pandemia do Covid-19 se propagou e causou transtornos na saúde pública, na economia e também relações sociais. O distanciamento entre as pessoas, afastou familiares que moravam próximos e mais ainda, aqueles que, por alguma razão, já viviam distantes, em outros territórios.
Especificamente para casais que moram em países diferentes o problema ficou ainda maior. Se a própria distância já era um bom impedimento, a partir de protocolos sanitários de cada nação a relação ficou ainda mais difícil, sob regras muito restritivas no caso de viagens.
Love is not tourism
Nesse contexto, o movimento “Love is not tourism” veio para tentar juntar novamente esses pares, bem como outros familiares afetados pelos desdobramentos da pandemia. Segundo os organizadores, “a maioria das pessoas não sabe sobre esse problema ou quantas pessoas ele realmente afeta”.
A ideia é que os indivíduos cumpram regras sanitárias, mas tenham uma abertura maior para viajarem e encontrarem a quem amam. Países como Dinamarca, Noruega, Canadá, Alemanha, França integram a lista dos 16 que já permitem a entrada de parceiros não casados em certas circunstâncias (veja a lista).
Uma brasileira que se apoiou em informações contidas nas publicações do “Love is not tourism”, foi Rejane Martins. A gaúcha conheceu o namorado Michel Thierry Legrand, francês e professor, no finalzinho de 2008, no site “Par Perfeito”.
“Foi meio que acidente, ele tinha uma foto muito ruim (risos), mas um texto muito bom. E, não sei como, chegou aquela apresentação para mim, de uma pessoa que parecia um idoso, mas achei o texto dele maravilhoso. Ele falava de uma mensagem numa garrafa, que ele jogava no mar, e dizia que estava no Oiapoque. E eu no Sul, em Porto Alegre, brinquei que interceptaria a garrafa e ela não ia conseguir chegar ao Chuí. Ele não entendeu nada, porque embora fale bem o português, não tem a cultura brasileira. E a brincadeira do Oiapoque ao Chuí não faz nenhum sentido. Em seguida perguntei se ele conhecia a música “Message In A Bottle”, do The Police, porque achava que era um senhor de bastante idade, e ele respondeu que ‘claro que sim’, que por isso tinha colocado esse título”, a partir daí começaram a conversar frequentemente relembra.
Logo depois, no começo do ano seguinte, 2009, ele foi a Porto Alegre, onde se encontraram pela primeira vez. Desde então estão juntos, mas nunca fizeram “papéis oficiais” dessa relação.
Rejane destaca que sempre foram “driblando” a situação, indo e vindo de muitos lugares (já que ele sempre viajou muito como professor) e “gastando muito dinheiro”, indo para Guiana quando ele estava lá, e ele a Porto Alegre. Depois, Michel ficou 5 anos no Brasil, fazendo doutorado em Porto Alegre e morando no apartamento dela.
“Depois desses 5 anos, a gente não consegue mais ficar muito tempo longe, mas a pandemia complicou muito as coisas porque os países se fecharam. Nós sempre tivemos uma relação aberta, tolerante, mas sempre nos sentimos juntos, sempre nos sentimos próximos, apesar de que por alguns meses a gente teve que ficar separado. Mas a maior parte do tempo a gente está junto”.
Rejane diz que nas páginas do “Love is not tourism” tem muitos casos de pessoas que como ela conseguiram se reunir com seus pares, dicas de protocolos a seguir, quais documentos apresentar. Ressalta, no entanto, que é necessário comprovar um relacionamento sólido com a pessoa para que a entrada seja facilitada.
A gaúcha entrou em contato com o grupo na França. Recebeu orientações de como proceder para receber o documento “Laissez passer” (usado para viagens de ida para o país expedidor, não sendo válido para outros trechos, substituindo para essa finalidade o passaporte, quando, por alguma razão, é impossível obtê-lo ou quando o passaporte não é aceito pelas autoridades do país de destino). Mas no seu caso não foi preciso, “o consulado informou que com a declaração do Michel de que eu tinha endereço com ele, comprovação de viagens dos dois… com isso eu conseguiria entrar”.
Agora, ela buscará o grupo novamente, para orientação de como continuar na França com Michel. “Eu entrei com o comprovante de residência, mas ainda assim eu só tenho autorização para ficar três meses, como qualquer turista, mas não é um caso de turismo. Vou ver como continuar mesmo não sendo ‘oficialmente’ casada”. Rejane está morando com Michel em Trébeurden, na Bretanha, no Noroeste da França.