Ivana Fuso, de 19 anos, foi a novidade da convocação da técnica Pia Sundhage para o She Believes, torneio que a seleção feminina de futebol disputará nos Estados Unidos entre os dias 15 e 24 deste mês. Nascida em Salvador, a meio-campista do Manchester United (Inglaterra) foi criada na Alemanha, país que defendeu nas categorias de base.
A jovem foi descoberta de maneira semelhante à Giovana, atacante do Barcelona (Espanha), natural de São Paulo e que também tem nacionalidade espanhola e norte-americana: por meio da observação de talentos brasileiros no exterior. Braço direito de Pia, de quem é auxiliar na seleção feminina, Lilie Persson é quem acompanha as jogadoras na Europa.
“[A Giovana] É um bom exemplo. Observei-a no Madrid CFF [Espanha] e vi que também tinha nacionalidade brasileira. O mesmo [aconteceu] com a Ivana Fuso. E talvez tenham mais. Então, temos de ser uma espécie de Sherlock Holmes [risos]”, diz Lilie, à Agência Brasil.
A missão da profissional sueca, de 53 anos, vai além de localizar novas Giovanas ou Ivanas. Cabe a Lilie acompanhar também as atletas que já integram o planejamento da seleção brasileira. Segundo ela, entre 20 e 25 jogadoras que atuam no Velho Continente estão no radar da comissão técnica. Dez das 25 convocadas para o torneio She Believes jogam na Europa, contra 11 que estão no Brasil, duas nos EUA e outras duas na China.
“Todas estão pensando na Olimpíada [de Tóquio, no Japão, entre julho e agosto], mas também olhamos a longo prazo. Após a Olimpíada, teremos uma Copa do Mundo [em 2023, na Austrália e na Nova Zelândia]. Então, também observamos a nova geração”, explica a auxiliar. “Hoje em dia, temos sorte de poder assistir a maior parte dos jogos pela internet. A maior parte é transmitida. Na Suécia, por exemplo, transmitem as ligas [femininas] francesa, italiana e alemã. Infelizmente, tivemos a pandemia [do novo coronavírus]. Caso contrário, eu estaria assistindo aos jogos de forma presencial”, completa.
Quando a seleção feminina está reunida, Lilie é uma das profissionais mais ativas nos treinos comandados por Pia. Durante as atividades, não é raro vê-la próxima às jogadoras, junto da também auxiliar Bia Vaz, conversando de forma individual e promovendo orientações específicas. A barreira do idioma, uma vez que a sueca ainda está aprendendo o português, não é problema.
“Tento pegar algumas palavras importantes, ligadas ao futebol. Algumas se tornaram minhas favoritas. 'Fica com a bola' e 'tira daí' soam muito bem no ouvido sueco. Uma vez, ouvi a Bárbara [goleira] gritar [para as marcadoras] 'pega, pega!', isso também chamou atenção. Somos todos seres humanos. É questão de saber deixar o outro confortável”, conta.
Min assisterande coach jobbar alltid 👊🏼 Lilie trying to teach a slug 🐌 pic.twitter.com/xNamLn7iPG
— Pia Sundhage (@PiaSundhage) January 20, 2021
Parceria conquistou medalha de prata olímpica
E poucas pessoas conhecem tão bem a maneira de Pia trabalhar como Lilie. Antes de serem contratadas pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF), elas estiveram juntas, por cinco temporadas, na seleção feminina da Suécia. Em 2016, na Olimpíada do Rio de Janeiro, conquistaram a medalha de prata, superando o Brasil na semifinal. Também dirigiram a equipe do país em duas Eurocopas e na Copa do Mundo de 2015, no Canadá.
“Ela [Pia] vive esse esporte há anos, esteve em toda e qualquer competição possível e, ainda assim, quer sempre aprender coisas novas, todo dia. Acho isso incrível. Ela também é muito boa na forma de pensar sua equipe, de querer ter os melhores por perto, na fisioterapia, na psicologia, na comissão, na comunicação. E como pessoa, é muito divertido estar com ela. É fácil de se relacionar, ama futebol, ama a música e ama a vida”, descreve.
A carreira de Lilie, porém, vai além do período na seleção sueca principal. Foram 17 anos como atleta e quase uma década como treinadora e auxiliar de times suecos até chegar, em 2005, à federação de futebol do país escandinavo, na qual permaneceu por 14 anos. O último cargo dela foi o de coordenadora técnica das seleções femininas de base – onde também trabalhou com Pia, que era técnica da equipe sub-17 antes de vir ao Brasil.
Com base nas quatro décadas de experiência, dentro e fora de campo, Lilie acredita que a mescla entre a metodologia europeia e a técnica das atletas brasileiras pode fazer da seleção nacional uma das maiores potências da modalidade.
“Tenho conversando com a Duda [Luizeli, coordenadora de seleções femininas da CBF] e a vejo determinada, trabalhando duro. Realmente penso que o Brasil pode se tornar uma nação top. Não diria que há certo ou errado, mas maneiras diferentes de olhar o futebol. E tenho enorme respeito pelo modo brasileiro. Cresci vendo Sócrates, Marta e outros grandes jogadores. Mas, penso que se colocarmos um pouco do modo europeu, no que diz respeito a analisar o jogo, o oponente, ser mais efetivo nesse sentido, a mistura pode ser fantástica. E o contrário também. Na Suécia, por exemplo, temos brasileiros levando a técnica daqui, que é muito superior a nossa”, conclui Lilie.