Cotidiano

Atletas de bocha paralímpica se enfrentam em Libertadores online

Quatro equipes de bocha paralímpica disputam, desde o último dia 3 de novembro, um torneio online de Boccia Battle, aplicativo que simula uma partida da modalidade. Com 32 atletas, entre brasileiros e argentinos, a competição recebeu um nome sugestivo: Libertadores.

Competem pelo Brasil as equipes Rio de Janeiro Power Soccer (RJPS), Associação de Desportos para Deficientes (ADD), de São Paulo; e Instituto Barueri Paralímpico (IBP). O Club de Deporte Adaptado San Jerónimo, da cidade de Mar Del Plata, representa a Argentina.

Os atletas foram divididos em oito grupos de quatro jogadores. O melhor de cada chave se classificou para disputar o principal título da Libertadores, o da chamada série “Champions”. Quem ficou em segundo, joga a série “Premier”. Os terceiros colocados duelam na série “President”. Essa etapa de séries, que é eliminatória, iniciou nesta terça-feira (17) e a previsão é que vá até o próximo dia 28.

“Todos estavam ansiosos. Normalmente, há essa rivalidade entre Brasil e Argentina na bocha. Não é só no futebol ou no rugby. Mas, claro, é uma rivalidade sadia”, garante Caio Oliveira, coordenador e técnico do IBP.

O game é disponível gratuitamente nos sistemas operacionais iOS e Android e reproduz as regras de uma de bocha: quatro sets, no qual cada jogador lança seis bolas, somando pontos a cada esfera que fique próxima à chamada bola alvo (branca). Como a pandemia do novo coronavírus (covid-19) forçou o cancelamento de eventos e a paralisação dos treinamentos, o aplicativo se popularizou entre os praticantes da modalidade adaptada – atletas com lesões medulares ou grau severo de paralisia cerebral, que estão no grupo de risco da doença.

“O jogo online, além de auxiliar o desenvolvimento de estratégias, ajuda a manutenção do bem estar emocional dos atletas por meio do lazer”, explica Melissa Macedo, técnica do RJPS, que conseguiu retomar as atividades in loco há três semanas, no Centro de Instrução Almirante Graça Aranha (Ciaga), zona Norte do Rio.

A equipe carioca já havia participado de um torneio online com ADD e IPB em setembro, dois meses após realizar seu próprio campeonato interno – que, segundo Melissa, fez tanto sucesso que ajudou a trazer três novos atletas ao time. “Percebemos que entre um evento e outro, os jogadores desenvolveram mais autonomia e responsabilidade, além de interagirem com pessoas que não conheciam”, detalha a técnica.

A ideia de uma competição virtual, inicialmente entre times brasileiros de bocha, partiu de Caio, do IBP, após contato com a instituição do Rio. “Nossos atletas ficaram super empolgados. A gente separou alguns dias da semana para treinar. Eu dava algumas dicas em relação a como jogarem e se comportarem. O intuito era colocar para eles as mesmas sensações que teriam se a partida fosse presencial. Eles tinham todo um ritual de preparação para os jogos”, conta o treinador.

Já para o campeonato atual de Boccia Battle, veio a ideia de incluir o San Jerónimo. “Eu conhecia o Caio de um torneio no Brasil em 2014, do qual fui árbitra. Ficamos muito felizes de poder participar. Já tivemos experiência em algumas competições virtuais aqui na Argentina e adoramos o convite”, diz Salomé Salas, técnica do clube de Mar Del Plata.

Por enquanto, IPB e San Jerónimo não puderam voltar aos treinos presenciais. Até por isso, a chance de competir internacionalmente, ainda que online, em meio a falta de eventos, cai como uma luva. “Com a pandemia, estamos sem poder treinar. Apenas alguns podem fazê-lo de casa. Acreditamos que o jogo [online] motiva os atletas e auxilia professores e árbitros. É um grande meio de união nesse mundo da bocha”, destaca Salomé.

“O ano seria movimentado. Sediaríamos uma etapa do [Campeonato] Paulista, realizaríamos um festival e organizaríamos um outro torneio interclubes. Veio a pandemia, mas comissão técnica e atletas encontraram, no torneio virtual, uma válvula de escape. É de extrema importância para manter os vínculos, as parcerias. Estamos nos movimentando de alguma forma, seja na parte física, mental ou na cognitiva”, finaliza Caio.