Cotidiano

Média móvel de mortes por covid-19 cresce no RJ, diz Fiocruz

As médias móveis de novos óbitos por covid-19 no estado e no município do Rio de Janeiro subiram entre os dias 17 e 24 de agosto, segundo dados do painel Monitora Covid-19, mantido pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). No caso da capital, a média diária de novas mortes mais do que dobrou, passando de 29,71 para 69,43, o maior patamar desde 9 de julho.

O estado do Rio de Janeiro apresentou movimento semelhante, partindo de uma média móvel de 65,43 mortes diárias em 17 de agosto e chegando a 118 em 24 de agosto, o maior número desde 25 de julho. 

A Secretaria Municipal de Saúde (SMS) informou que está avaliando os números de óbitos e casos dos últimos dias e apontou mudanças metodológicas e aumento de testagem entre os fatores que podem explicar o crescimento de notificações.

“Desde o dia 1º de agosto, o Ministério da Saúde determinou que agora são contabilizados óbitos e casos que apresentam os critérios clínicos e radiológicos, mesmo sem a confirmação laboratorial. Outro importante fator foi o aumento de casos em cidades vizinhas ao Rio de Janeiro. Muitos moradores desses municípios estão buscando o tratamento para a doença em hospitais da capital”, informou o município.

Já a Secretaria Estadual de Saúde (SES) afirmou que não utiliza a média móvel para contabilizar os casos da doença para evitar distorções. “Casos antigos, que demoraram a ser informados, acabam sendo contabilizados”, argumentou a SES. O órgão avaliou que o número de óbitos está em queda sustentada desde o início de maio, quando analisada a data da ocorrência da morte e não a data de sua divulgação.

A média móvel de mortes é calculada ao somar os novos óbitos registrados em um dia com os registros dos seis dias anteriores. O resultado, então, é dividido por sete. O objetivo do indicador é reduzir o impacto das oscilações diárias, já que menos notificações são inseridas nos sistemas de dados nos fins de semana. Para pesquisadores ouvidos pela Agência Brasil, o crescimento da média móvel de mortes reforça a importância de respeitar as medidas de prevenção à doença.

O infectologista do Instituto de Comunicação e Informação em Saúde da Fundação Oswaldo Cruz (Icict/Fiocruz) Diego Xavier disse que a alta é reflexo do descuido em relação ao distanciamento social. “A gente já está se acostumando a ver, no Rio de Janeiro, a aglomeração de pessoas em locais como bares e na praia, e, principalmente, sem o uso de máscara ou tomando as medidas de higiene que são recomendadas. O vírus se aproveita exatamente disso para se proliferar”, ressaltou.

“As pessoas estão naturalizando os números, infelizmente. Apesar de a gente continuar com essa média de mil óbitos por dia [no país], as pessoas estão tentando retomar uma rotina que existia antes da pandemia, mas isso não é possível agora. Se a gente continuar com o processo de reabertura, ignorando a doença, ela vai cobrar.”

Xavier destacou que é preciso que a população colabore com as medidas de prevenção para evitar um novo aumento de casos e vítimas da doença. Ao poder público, o infectologista pediu reforço na capacidade de testagem e rastreio, para localizar casos positivos entre os contatos de quem já foi diagnosticado e interromper cadeias de transmissão com o isolamento dessas pessoas. “Mesmo se mantivermos esse cenário que a gente tem hoje, e continuar com a flexibilização sem rastreio e sem o cuidado da população, a tendência é de aumento, porque existe uma parte grande da população que ainda não teve contato com o vírus.”

Síndrome respiratória

Divulgado semanalmente, o boletim Infogripe, elaborado pela Fiocruz em parceria com o Ministério da Saúde, já havia apontado a interrupção do movimento de queda nos casos de síndrome respiratória aguda grave no estado do Rio de Janeiro. Na avaliação do coordenador do Infogripe, Marcelo Gomes, a pandemia também já havia parado de recuar na capital e continuado em movimento de interiorização nos demais municípios. Os dados que serão divulgados no boletim desta semana mostrarão se a estabilização continuou na semana entre 16 e 22 de agosto, ou se houve alta, como na média móvel de mortes.

“Já está muito claro que não estamos mais em queda. Isso está claríssimo. Se isso vai virar uma segunda onda ou não, passa muito por como vamos reagir a essa mudança de tendência”, afirmou. O pesquisador elogiou  medidas como o adiamento da volta às aulas, mas pede que a população mantenha a mobilização com o distanciamento social, o uso de máscaras, os cuidados de higiene e a etiqueta respiratória. “O ambiente de ensino é extremamente favorável para a transmissão de vírus respiratório. Esse adiamento anunciado veio em bom momento. A questão é se, até o novo prazo estabelecido, a coisa terá voltado a cair e chegado a níveis suficientemente baixos.”

O último boletim do Infogripe foi divulgado pela Fiocruz no dia 21 de agosto e se referia aos dados que foram inseridos no Sistema de Informação de Vigilância da Gripe (Sivep-Gripe) para a Semana Epidemiológica 33, período que vai de 9 a 15 de agosto. Marcelo Gomes afirmou que cerca de 70% dos casos de óbitos por SRAG no país podem ser atribuídos à covid-19, mas que há falsos negativos e dificuldades de testagem. Se considerados apenas os casos em que houve testes positivos para vírus respiratórios, o percentual passa de 99%.

Taxa de transmissão

Outro indicador do movimento da pandemia, a taxa de transmissão da covid-19 se manteve em 1,0 até o dia 18 de agosto, podendo oscilar dentro do intervalo de 0,7 e 1,2. Essa taxa indica que cada 100 casos de covid-19 no estado do Rio de Janeiro transmitem a doença para mais 100, mantendo a pandemia em um patamar estabilizado.

O número é ajustado para amenizar as oscilações diárias e disponibilizado pelo painel de dados da Rede Covida, também mantido por pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz. Quando observada sem ajuste, porém, a taxa de transmissão estava em alta e chegou a 1,3 no dia 18 de agosto, o que indicaria que cada 100 casos transmitiam a doença para novos 130.  

A taxa de contágio também é acompanhada por pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), que divulgaram na última segunda-feira a ultima edição do covidímetro. A taxa chegou a 1,23 para o estado; 1,18 para a capital; e 1,21 para os demais municípios da Região Metropolitana.

Taxa de ocupação

Segundo o governo do estado, a taxa de ocupação, considerando todas as unidades de saúde da rede estadual destinadas à covid-19, estava em 23% em leitos de enfermaria e 56% em leitos de UTI no dia 24 de agosto.

Entre os dia 17 e 24 de agosto, segundo a Secretaria de Saúde, a taxa de ocupação dos leitos de unidade de terapia intensiva para covid-19 aumentou de 62% para 68% na cidade, enquanto para os de enfermaria, o crescimento foi de 42% para 50%. O município atribui o aumento à transferência de pacientes que estavam internados em hospitais de campanha que encerraram suas atividades, como o Hospital de Campanha do Leblon.

O município informou que seu hospital de campanha, montado no Riocentro, continua em funcionamento e ressalta que não fechou nenhum leito de UTI para covid-19.