Cotidiano

Risco de evasão em escolas públicas chega a 31%, diz pesquisa

Três em cada dez pais ou responsáveis de estudantes de escolas públicas temem que os jovens desistam da escola se não conseguirem acompanhar as aulas não presenciais, que estão sendo realizadas de forma remota durante a pandemia. Entre os que têm três ou mais estudantes em casa, esse índice chega a 38%. Esses são resultados da segunda edição da pesquisa “Educação Não Presencial na Perspectiva dos Estudantes e suas Famílias”, realizada pelo Datafolha e encomendada pela Fundação Lemann, Itaú Social e Imaginable Futures.

Esse risco da evasão escolar é agravado pelos seguintes dados da pesquisa: o aumento da falta de motivação dos estudantes para as atividades em casa, que passou de 46% para 53% na comparação entre as duas edições da pesquisa; e aumento do índice dos que percebem dificuldade na rotina das atividades em casa, que subiu de 58% para 61%. Nas famílias com três ou mais estudantes em casa, esse índice chega a 67%.

O Diretor de Políticas Educacionais da Fundação Lemann, Daniel De Bonis, afirma que a evasão no Brasil é mais comum entre os estudantes de famílias mais vulneráveis e também entre os mais velhos. “A evasão tem efeitos muito negativos nos índices educacionais, pois representa uma quebra no processo de escolaridade, a qual pode levar ao abandono definitivo dos estudos ou a um atraso grande na escolarização”, disse. 

“Para evitá-la, é muito importante que as redes de ensino mantenham o vínculo entre alunos e escolas mesmo durante a pandemia, com atividades frequentes, comunicação com os alunos e pais e sensibilização para a importância do processo pedagógico, mesmo que não presencial”, acrescentou. Por outro lado, a pesquisa mostra que alunos com mais contato com seus professores se dedicam mais tempo aos estudos e correm menor risco de evasão.

Foram realizadas 1.028 entrevistas com pais ou responsáveis por 1.518 estudantes de escolas públicas municipais e estaduais das cinco regiões do Brasil, com idade entre 6 e 18 anos, entre os dias 11 e 20 de junho deste ano. A primeira pesquisa Datafolha sobre o tema foi feita de 18 a 29 de maio de 2020.

Aulas presenciais

Em relação ao retorno às aulas presenciais, a pesquisa demonstra que 49% dos estudantes temem não conseguir acompanhar o volume das atividades e 43% teme não conseguir acompanhar as aulas. Entre os mais pobres, é maior o medo de não conseguir acompanhar o volume das atividades (60%) e o ritmo das aulas (53%).

“Nos domicílios mais pobres, tipicamente os responsáveis tem menor nível de escolaridade, o que dificulta o apoio aos filhos nas atividades escolares. Além disso, muitos domicílios podem não possuir condições ideais para o estudo, desde espaço físico e iluminação adequados até conectividade e acesso a dispositivos”, disse De Bonis.

Entre as ações que podem respaldar os estudantes mais pobres em seus estudos, ele citou que muitas redes de ensino estão viabilizando videoaulas por TV aberta, que tem um alcance muito grande na população, além de custear o consumo de dados no acesso a recursos educacionais digitais via celular.

A pesquisa traz ainda dados sobre o aspecto psicológico dos estudantes: o medo da contaminação pelo novo coronavírus no retorno às aulas é uma preocupação para 87% dos estudantes. Para 64% dos pais ou responsáveis, os estudantes estão ansiosos, 45% estão irritados e 37% tristes. Quanto maior é o número de estudantes em uma só casa, maior é essa percepção. Nas casas com três ou mais alunos, 72% estão ansiosos, 63% irritados e 50% tristes.

Para equilibrar o medo de contaminação na volta às aulas presenciais e os sentimentos causados pelo isolamento social, De Bonis avalia que o retorno às aulas deve ser planejado de forma gradual, segura, e condicionada às condições epidemiológicas da região.

“Em muitos países em que houve reabertura das escolas, a redução do número de turmas (com revezamento por dias da semana), uso de máscara, práticas de higiene, testagem de alunos e educadores e distanciamento (evitando-se o contato entre alunos de turmas diferentes) têm se mostrado efetivas. Mas em qualquer caso, as ferramentas de ensino não presencial deverão continuar sendo utilizadas, num modelo híbrido, por algum tempo”, disse. Para 89% dos responsáveis pelos estudantes, o retorno às escolas deve seguir um modelo de aulas presenciais junto com as atividades em casa.