O canoísta piauiense Luís Carlos Cardoso está garantido na Paralimpíada e Tóquio (Japão), a segunda na carreira do atleta. A confirmação veio em agosto passado, quando conquistou o título mundial na prova da canoa, categoria VL2 200 metros, realizada em Szeged (Hungria). O brasileiro concluiu o percurso em 51s68.
Durante live (transmissão ao vivo) realizada no conta oficial da Confederação Brasileira de Canoagem (CBCa), no Instagram, no última segunda-feira (8), o canoísta contou como vem se preparando para a conquista inédita de uma medalha nos Jogos de Tóquio, adiados para o ano que vem.
“No Rio de Janeiro [Rio 2016], fiquei a apenas seis centésimos do ouro. Agora o meu grande sonho é ganhar essa medalha” sonha Luís Carlos, que nos Jogos de 2016 ficou em quarto lugar (51s63). O mais rápido na prova de caiaque KL1 200 m – categoria para atletas com pouco ou nenhum funcionamento das pernas e do tronco – foi o polonês Jakub Tokarz (51seg08), e o húngaro Robert Suba (51s12) ficou com a prata. O britânico Ian Marsden (51seg22) chegou em terceiro e levou o bronze.
Para ter um desfecho diferente em Tóquio, nem mesmo a pandemia do novo coronavírus (covid-19) foi capaz de tirar o piauiense da trilha. “Nas primeiras semanas fiquei um pouco chocado. Mas vi que não adiantava ficar reclamando. O negócio era aproveitar esse tempo e aperfeiçoar o meu desempenho. Sempre digo que a limitação maior não é a física, é a mental”.
Segundo o atleta, a rotina de treinamentos foi completamente afetava. As águas da Represa Billings, em São Bernardo do Campo, no ABC Paulista, onde o atleta reside, tiveram que ser deixadas de lado. “Procuro evitar ao máximo sair de casa. Com o acompanhamento à distância da minha equipe multidisciplinar, estou fazendo o possível para me manter em forma. Isso vai passar. Então, é importante se manter focado para sair melhor lá na frente”, aconselha.
Mudanças
Até 2009, a vida de Luís Carlos era dedicada à dança. “Foram nove anos. Viajei muito fazendo shows com bandas de forró. Dançava no grupo do Frank Aguiar”, recorda. Mas, em dezembro de 2009, ele ficou paraplégico, depois de contrair esquistossomose. Enquanto estava acamado, sofreu outro baque: a morte da mãe. “Ela sempre foi a minha fã número um. Tudo indicava que eu deveria parar, desistir … “. Mas foi aí que o esporte entrou na vida do piauiense. “A paracanoagem me trouxe de volta aquela alegria que eu sentia nos palcos. Comecei através da fisioterapia. Queria me recuperar. Foi amor à primeira vista”.
As primeira competições foram em 2011. E, a partir dali, ele não parou mais de colecionar medalhas e histórias, como em 2012, no Mundial de Poznan (Polônia). “Era a primeira viagem internacional. Eu tinha colocado uma sonda permanente. Tive hemorragia e acabei competindo com pontos. Muita dor. Mas, graças a Deus, veio a medalha de prata”.
Dois anos depois, em 2014, no Mundial de Moscou, na Rússia, Luís Carlos enfrentou outros problemas, antes de subir ao pódio. “Estiquei muito o braço e machuquei a costela. Não podia ser medicado por causa do antidoping. Fui para a final assim mesmo e ganhei o ouro. Só no Brasil que fui descobrir que tinha fraturado a costela”.
Em 2015, no torneio de Milão, na Itália, dois ouros, um deles inesperado. “Treinava apenas para disputar a prova na canoa. Só que, no começo do ano, saiu a decisão de que apenas o caiaque faria parte dos Jogos do Rio. Não foi fácil, mas cheguei ao ouro depois de apenas seis meses de treino”, lembra.