O Hospital Dona Helena, de Joinville (SC), realizou nesta quinta-feira (4) um procedimento cardiológico inédito no Sul do Brasil: a cardioneuroablação. A técnica é menos invasiva e dispensa uso do marca-passo para restabelecer a frequência cardíaca, explica Rafael Ronsoni, médico que integra a equipe de Eletrofisiologia da instituição, responsável pela aplicação do procedimento.
A cardioneuroablação, segundo o especialista, é semelhante a uma ablação cardíaca por cateter, na qual localiza-se, dentro do coração, as inervações parassimpáticas (porção do sistema nervoso que reduz os batimentos cardíacos). A técnica aplica energia de calor em algumas áreas para modular, de forma adequada, o excesso de estímulo que estava provocando as pausas cardíacas. O procedimento dura, em média, três horas para ser realizado.
“As vantagens aos pacientes são as melhoras clínicas, com resolução das pausas cardíacas e dos desmaios. É um procedimento menos invasivo do que um implante de marca-passo, evitando a utilização de uma prótese pelo resto da vida”, ressalta o cardiologista, apontando também que a técnica gera menos custos aos sistemas de saúde ao longo dos anos.
Indicação
As situações clínicas em que o procedimento é indicado são: desmaios com origem em uma desregulação da pressão arterial e dos batimentos cardíacos, chamada de síncope vasovagal; e períodos de frequência cardíaca reduzida, denominada bradicardia, na ausência de doença na estrutura do coração.
De acordo com Rafael, o controle da pressão arterial e dos batimentos cardíacos ocorre normalmente pela ação das terminações nervosas que agem sobre o coração. “Quando nós praticamos um esforço físico, como uma corrida, temos um aumento normal e necessário da frequência cardíaca e da pressão arterial, crescimento mediado pelo sistema nervoso simpático, que está em íntimo contato com o coração”, exemplifica. “Por outro lado, durante o sono, nosso metabolismo é reduzido e, portanto, temos uma redução dos batimentos cardíaco e da pressão arterial até um certo patamar. Esta ação é condicionada pelo sistema nervoso parassimpático que, da mesma forma que o simpático, possui ação cardíaca”, esclarece.
Em alguns pacientes, identifica-se uma exacerbação da modulação do sistema nervoso parassimpático, resultando em períodos intensos de bradicardia, gerando pausas na atividade cardíaca, por vezes superiores a 10 segundos. “Mesmo se o paciente possuir um sistema elétrico cardíaco normal isso acontecerá, pois falta o estímulo que o sistema nervoso proporciona para o coração gerar os batimentos cardíacos”, frisa. Nestes casos, tradicionalmente é indicado o implante de marca-passo, mesmo com o sistema elétrico normal. Para evitar esta situação, foi desenvolvida a cardioneuroablação, técnica para modular o controle nervoso da frequência cardíaca. “Por meio de aplicações de calor em regiões específicas do coração onde esses nervos atuam, podemos reduzir a ação do sistema nervoso parassimpático e, por consequência, abolir as pausas do coração”, detalha.
“Diferentemente, na presença de doenças cardíacas, mesmo com o trabalho adequado dos sistemas nervosos citados anteriormente, não temos um adequado resultado referente à modulação da frequência cardíaca e da pressão arterial – nessa situação, estamos diante de uma doença cardíaca que necessita de tratamento específico e muitas vezes, o marca-passo é indicado”, pondera.