Cotidiano

ONGs criam soluções para recolher doações durante isolamento

Para conectar doadores isolados em suas casas e famílias vulneráveis impactadas pela crise do novo coronavírus, organizações não governamentais têm apostado em redes sociais, plataformas digitais e campanhas online como formas de arrecadação de bens e recursos financeiros.

Inspirada em um marketplace, a plataforma #Boradoar é uma dessas iniciativas. O site divulga possibilidades de doar para projetos em comunidades e serviços de saúde, e o valor doado cai direto na conta do projeto selecionado pelo doador.

Projetos sociais

No site, é possível doar para ONGs como a Casa do Rio, que está distribuindo kits de higiene pessoal e doméstica no estado do Amazonas, ou a Abraço Campeão, que doará cestas básicas para moradores do Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro. 

A plataforma também permite doar paras Santas Casas de São Paulo e Belo Horizonte, ajudando na compra de itens como equipamentos de proteção individual para profissionais de saúde.

Para fazer famílias de comunidades no Rio de Janeiro terem acesso a bens essenciais, a ONG Saúde Criança vai receber doações por cartão de crédito ou transferência bancária e depositá-las em um cartão alimentação de pais e mães cadastrados no projeto. A ideia da campanha, chamada de #UmaMãoLavaaOutra, é fazer com que as 250 famílias cadastradas continuem a ter acesso a alimentação e higiene pessoal durante o período de isolamento, o que vai possibilitar também que pequenos mercados e farmácias nessas comunidades continuem a ter fluxo de caixa.

A distribuição de cartões alimentação também está nos planos da ONG Gerando Falcões, que pretende atingir 1 milhão de “cestas básicas digitais”, cada uma com a doação de R$ 50. O projeto quer entregar seis dessas cestas para cada família atravessar até três meses de crise do novo coronavírus abastecida com o básico. Os recursos serão carregados em cartões alimentação e entregues a líderes conveniados ao projeto em comunidades do país, que vão distribuí-los a famílias em situação de vulnerabilidade.

Outra iniciativa que pretende reunir um grande volume de doações a famílias vulneráveis é o Movimento Rio Contra o Corona, que já arrecadou um milhão de reais. A ação é uma união das ONGs Banco da Providência, Instituto Ekloos e Instituto Phi, que dividem as tarefas de arrecadar recursos online, comprar e distribuir os suprimentos básicos a instituições da capital e da Baixada Fluminense. Entre as metas, está entregar 100 mil litros de álcool gel para as famílias.

A ONG Viva Rio também está reunindo doações para a compra de cestas básicas, mas a entrega se dará de forma diferente. O dinheiro será depositado para pequenos mercados nas comunidades, e as famílias cadastradas poderão retirar as cestas básicas nesses estabelecimentos, que terão o CPF dos beneficiados para garantir que elas cheguem às mãos certas. A meta é fazer com que 60 mil cestas básicas cheguem a 15 mil famílias do Rio de Janeiro.

A organização não governamental Ação da Cidadania iniciou no fim de março a entrega de 40 toneladas de cestas de alimentos não perecíveis que chegarão a moradores de comunidades do Rio de Janeiro que vem sofrendo com a falta de recursos financeiros em meio à crise provocada pela disseminação do novo coronavírus. A campanha tem a parceria do Movimento Bem Maior e da plataforma de financiamento coletivo Benfeitoria. 

Doadores interessados em ajudar minorias e populações vulneráveis a se prevenir contra o coronavírus também podem marcar com o Grupo pela Vidda, no Rio de Janeiro, para entregar sua doação diretamente na sede da instituição, no centro da cidade, ou em pontos de coleta a serem combinados. A entidade recolhe doações de alimentos e produtos de higiene para LGBTIs e pessoas vivendo com HIV e Aids em situação de vulnerabilidade

Dentro das comunidades

Instituições de dentro das favelas também estão realizando campanhas para a doação de bens essenciais. Com capilaridade nas comunidades do Complexo da Maré, a Redes da Maré está pedindo alimentos não perecíveis, itens de higiene pessoal e de limpeza e água mineral para atender famílias já mapeadas. As doações podem ser realizadas pessoalmente, no Centro de Artes da Maré, e também por transferências para a conta bancária da Redes da Maré, disponível no site da instituição.

A Central Únicas das Favelas (Cufa) também lançou uma campanha própria, a Favela Contra o Vírus, que está reunindo alimentos e álcool em gel para moradores de comunidades de todo o Brasil. A ONG também tem trabalhado na divulgação de mensagens pelas redes sociais, reforçando a importância do isolamento social e explicando as formas de prevenção da doença.

O jornal Voz das Comunidades, fundado por moradores do Complexo do Alemão, organizou a ação Pandemia com Empatia, para arrecadar e distribuir materiais de higiene e água, já que a falta de abastecimento é uma queixa recorrente dos moradores do complexo. Para evitar que as pessoas precisem se deslocar para deixar as doações, a ONG também está recebendo depósitos e transferências bancárias, e as informações estão disponíveis no perfil da Voz das Comunidades no Facebook.

A necessidade de socorrer famílias em situação de vulnerabilidade também fez novas organizações surgirem por meio da mobilização de moradores. Em São Gonçalo, segunda cidade mais populosa do estado do Rio, um grupo de mulheres formou um comitê para recolher doações e levar até famílias pobres que terão sua rotina ainda mais fragilizada pelo isolamento social. A iniciativa cresceu e já conta com quatro postos de coleta e distribuição de doações, com a meta de entregar cestas básicas a 100 famílias por semana.

O grupo cadastra moradores e faz uma triagem com assistentes sociais para formar uma fila de doações, que também são recolhidas na casa dos doadores por meio de uma frota de veículos que voluntários disponibilizaram para o projeto.

Além de produtos essenciais, ONGs também têm buscado ajuda para reforçar suas ações de comunicação e conscientização sobre as medidas de prevenção. Os coletivos MARÉ Vive, MARÉ 0800 e AmarÉvê lançaram uma vaquinha virtual para arrecadar R$ 6 mil por mês nos próximos 4 meses, totalizando R$ 24 mil, para manter ações como carro de som, cartazes, faixas e distribuição de áudios informativos sobre a pandemia no Complexo da Maré, na zona norte do Rio de Janeiro.