O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, alertou para o risco de surgimento de novos casos de dengue no Rio de Janeiro neste verão, com a entrada do novo sorotipo 2, que circulou no ano passado no estado de São Paulo, em Minas Gerais e em estados do Centro-Oeste. Segundo o ministro, o risco no Rio é que esse sorotipo há muito tempo não circula no estado. A última vez foi em 2008 e, por isso, muitas pessoas que não entraram em contato com o vírus, não têm imunidade.
Conforme o ministro, o sorotipo 2 evolui para casos mais graves de dengue. Mandetta alertou que o momento é de traduzir para a população esse risco para evitar que as pessoas pensem que por já terem sido infectadas com outros tipos de vírus estão livres da doença.
“A solução agora é levar para a comunidade o risco muito elevado quando se tem um vírus novo, que pode fazer um potencial de dano bem maior”, disse.
Para Mandetta, o enfrentamento da dengue no estado do Rio de Janeiro é fundamental para que não ocorra outra epidemina como a de 2008, considerada muito grave. O ministro revelou que na época participou do gabinete de crise montado para enfrentar a epidemia “Eu vim para colaborar e ajudei a montar umas UPAs em Santa Cruz e em Campo Grande, com tendas. Foi um trabalho muito grande para dar conta de atender a população naquela epidemia. Esse ano, tem que estar com muita atenção. Tem que redobrar a atenção, porque quando entra uma epidemia todos sofrem”, disse, após participar da soltura de mosquitos infectados com a bactéria Wolbachia, em Niterói, Região Metropolitana do Rio.
De acordo com Mandetta, não será necessário o ministério reforçar a atuação das secretarias de Saúde no estado, porque os órgãos já têm as suas estruturas próprias. “Eles já têm as armas. Para evitar a epidemia é botar o povo [das equipes] nas ruas, usar a imprensa, os meios de comunicação. A gente tem pesquisas que mostram que quase 98% da população sabe o que é dengue e sabe as medidas que têm que fazer para prevenir. O importante é que essa informação seja transformada em ação. Olhe a sua casa, o foco sempre estará ou perto do ambiente de trabalho ou perto da residência”, disse.
Wolbachia
O município de Niterói, recebeu, hoje (2), mais uma vez os chamados mosquitos do bem, que são os insetos infectados com a bactéria Wolbachia. Eles foram lançados na natureza, no pátio da Clínica Comunitária da Família Dr. Antônio Peçanha. A tecnologia começou a ser desenvolvida no Brasil pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), em 2012, e já se mostrou eficaz no combate à dengue, à zika e à chikungunya, doenças transmitidas pelo Aedes aegypti.
A Wolbachia é uma bactéria intracelular que após infectar os mosquitos impede que os vírus da dengue, da zika e da chikungunya se desenvolvam dentro destes insetos. Segundo a Fiocruz, a tecnologia não provoca modificação genética, nem da bactéria, nem do mosquito. A Wolbachia já era encontrada naturalmente em outros insetos, até que começaram os estudos para a infecção nos mosquitos Aedes aegypti.
Resultados
De acordo com a Fiocruz, os primeiros resultados indicaram que o uso desses insetos infectados com a Wolbachia reduziu em 75% os casos de chikungunya em 33 bairros da região. Nesta etapa, vão receber os mosquitos do bem os bairros do Fonseca, Engenhoca, Cubango, Santana e São Lourenço, todos no mesmo município. Além dos bairros de Niterói, o método Wolbachia foi aplicado até o momento em 28 bairros do Rio de Janeiro, beneficiando 1,3 milhão de pessoas nos dois municípios.
O ministro chamou atenção para o fato de que apesar dos bons resultados, o mosquito com Wolbachia é uma ação complementar e a população precisa manter o cuidado para evitar a proliferação do Aedes aegypti.
“Revejam sua casa, vaso de planta, pneu, garrafa. Não deixa a água parada, retira. Uma retirada de um foco elimina milhares de casos”, lembrou.
Mosquitos
As liberações dos mosquitos do bem começaram em 2015, nos bairros de Jurujuba, em Niterói, e em Tubiacanga, na Ilha do Governador, zona norte do Rio. Em 2016 a ação foi ampliada em outros locais de Niterói e em 2017 se expandiu no município do Rio de Janeiro. Agora, o Ministério da Saúde está fazendo a extensão do programa para as cidades de Campo Grande (MS), Petrolina (PE) e Belo Horizonte (MG), com ações junto às comunidades locais e profissionais de saúde sobre a segurança do método e seu impacto no ecossistema. Nesses municípios, a soltura dos mosquitos começará no próximo ano. Também para 2020, está programada a ampliação do Wolbachia para Fortaleza (CE), Foz do Iguaçu (PR) e Manaus (AM).
“A gente passa para a segunda parte do quebra-cabeça. Como será que esse mosquito responderia em outros climas, em outros biomas? Uma coisa é o Rio de Janeiro, a sua mata, a sua chuva, seu índice de proliferação”, disse.
O pesquisador da Fiocruz e líder do World Mosquito Program no Brasil, Luciano Moreira, informou que em Niterói faltam apenas 100 mil habitantes para fechar o primeiro município do Brasil com o projeto. “Já temos resultados promissores nas primeiras áreas na região da Praia de Baía, tivemos redução 75% de casos de chikungunya, nessas áreas onde a Wolbachia se restabeleceu. É muito importante”, disse.
Números do Ministério da Saúde mostram, que desde 2011, em parceria com a Fundação Bill & Melinda Gates, e com National Institutes of Health, a pasta investiu R$ 31,5 milhões no método Wolbachia. Somente em 2019, os investimentos na tecnologia atingiram R$ 21,7 milhões.
A aplicação da tecnologia do mosquito com Wolbachia é desenvolvida também na Austrália, na Colômbia, na Índia, na Indonésia, no Sri Lanka, no Vietnã, e nas ilhas Fiji, Kiribati e Vanuatu, no Oceano Pacífico. Na semana passada, a experiência brasileira foi apresentada durante um congresso de medicina tropical, nos Estados Unidos.