Cotidiano

Tradicional no Rio, Trem do Samba não circulará por falta de recursos

Com um bilhete de trem, que pode ser obtido com um quilo de alimento, milhares de pessoas embarcam em um evento que, até o ano passado, contou com grandes nomes do samba, como Dona Ivone Lara, Paulinho da Viola, João Nogueira, Diogo Nogueira, Jorge Aragão e Leci Brandão. O tradicional Trem do Samba, realizado em comemoração ao Dia Nacional do Samba, celebrado no dia 2 de dezembro, estaria na 24ª edição em 2019 mas, por falta de dinheiro, não vai circular este ano.  

“Venho dizer com muita dor que não teremos o nosso Trem do Samba esse ano”, anunciou, pelo Facebook, o idealizador do evento, sambista Marquinhos de Oswaldo Cruz. 

O Trem do Samba foi criado em 1996 e em 1999 passou a fazer parte do calendário oficial da cidade. De acordo com a organização, o evento reúne cerca de 100 mil pessoas por ano. Além do samba nos vagões do trem, são montados palcos em áreas estratégicas da cidade. 

O trajeto percorrido pelo trem, da Estação Central para Oswaldo Cruz, localizado na Zona Norte do município, relembra a viagem de Paulo da Portela, que junto com outros músicos, no início do século 20, fazia o trajeto batucando no trem fugindo da repressão. A viagem era uma forma de resistência, já que o ritmo era criminalizado.

O evento não recebia apoio público desde 2017, quando passou a ser mantido exclusivamente pela iniciativa privada. Os recursos, no entanto, foram ficando mais escassos. No ano passado, Marquinhos conta em entrevista à Rádio Nacional, que os músicos tiveram que tocar de graça. “Ano passado era tão irrisório o patrocínio que todos os amigos, todos os músicos, resolveram cantar de graça e irem de graça, em prol do Trem do Samba. Só que esse ano é mais irrisório ainda e eu achei que não dá para fazer”, diz. 

Além do pessoal, os recursos servem para pagar, por exemplo, equipamentos de som, segurança, banheiros químicos. Para o sambista, o poder público poderia ter investido no evento, que é tradicional na cidade. “Quando o dólar está alto, o governo intervém, quando está baixo, o governo faz intervenção, seja qual for o governo. Eu acredito que na indústria cultural, que traz tanta riqueza para o estado, para a nação, o poder público tinha que estar intervindo sim”.

Apesar de não aportar recursos, ele conta que tanto a prefeitura do Rio de Janeiro, quanto o governo do estado, escreveram cartas de recomendação para ajudá-los a conseguir apoio junto à iniciativa privada. 

Para celebrar o Dia do Samba, a prefeitura está organizando uma série de atrações, entre elas o primeiro BRT do Samba, que partirá de Madureira, amanhã (30), até o Terminal Alvorada, na Barra da Tijuca, onde está previsto um cortejo até a Cidade das Artes. A programação termina no complexo cultural, onde acontecerá o Festival Matrizes do Samba. 

A edição de estreia fará uma homenagem aos sambistas Noca da Portela, Zé Luiz do Império e Dorina. O projeto foi criado pelo Consórcio BRT Rio em parceria com a Secretaria Municipal de Cultura e a Rede Carioca de Rodas de Samba. 

“Já teve a Barca do Samba, o Bonde do Samba, eu nunca me incomodei, acho que todo mundo tem que comemorar o Dia Nacional do Samba”, diz Marquinhos. “O que a gente sente muito é que tudo isso aconteceu com o Trem do Samba”. 

A Agência Brasil entrou em contato tanto com a Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Governo do Estado do Rio de Janeiro quanto com a Secretaria Municipal da Prefeitura do Rio, mas não recebeu resposta até o fechamento da matéria.