A mostra Interferências3, organizada pelo centro de cultura digital Oi Kabum!Lab, considerado o ponto de encontro e resistência da juventude popular carioca, promete tomar conta da cidade do Rio de Janeiro amanhã (16) com um conjunto de instalações urbanas e performances públicas de mais de 70 artistas das periferias da capital fluminense.
Com temas e linguagens variados, as obras foram produzidas no Laboratório de Intervenções Artísticas do Oi Kabum!Lab. A mostra é resultado de parceria da organização do terceiro setor Centro de Criação de Imagem Popular (Cecic) com as Secretarias de Cultura municipal e estadual. Por meio da Lei de Incentivo à Cultura do estado do Rio de Janeiro, o Instituto Oi Futuro, braço de inovação social da empresa de telefonia Oi, também apoia a mostra.
As intervenções urbanas ocorrerão no Largo do Machado, zona sul da cidade, e na Praça Mauá, zona portuária, ambas na parte da tarde. Depois da mostra, cada grupo terá autonomia para levar os projetos a outros pontos da cidade, como a Favela da Maré e o Parque Madureira.
Em 7 de dezembro, os trabalhos serão apresentados em uma exposição no Centro Municipal de Arte Hélio Oiticica, na Praça Tiradentes, centro do Rio de Janeiro. A exposição ficará aberta ao público nesse local até 1º de fevereiro do próximo ano.
Arte e tecnologia
Os artistas que farão as intervenções trabalham no campo da arte e da tecnologia, com vídeos, fotos, artes visuais, realidade virtual, projeção mapeada, performance, usando uma linguagem de programação voltada para instalações artísticas.
“Todas as linguagens do campo da arte e da tecnologia se encontram no Oi Kabum!Lab para desenvolverem projetos de intervenção artística híbridos. Eles misturam diversas técnicas e linguagens para criarem essa intervenção artística, às vezes na rua, na praça, ou em ambientes mais fechados, como uma festa, um sarau. São acontecimentos artísticos híbridos”, explica Fernando Mozart, um dos coordenadores do Oi Kabum!Lab.
A maioria dos mais de 70 artistas que participarão do evento de amanhã (16) e da exposição no Centro Municipal de Arte Hélio Oiticica vêm de comunidades do Rio de Janeiro, da região metropolitana e da Baixada Fluminense. Grande parte vem de bairros distantes do centro. Segundo Mozart, a localização do Oi Kabum!Lab, no Centro Calouste Gulbenkian, próximo à Central do Brasil, facilita que as pessoas venham de trem e metrô.
“É impressionante como eles valorizam a atividade para virem de tão longe do centro, para poderem participar desse laboratório”, comenta Mozart. O Centro Calouste Gulbenkian pertence à Secretaria Municipal de Cultura do Rio de Janeiro.
Talentos
Ao longo do tempo, diz Mozart, o Oi Kabum!Lab tem descoberto talentos entre os moradores de áreas carentes. “São pessoas com potencial tremendo. Quando se descobre que esses jovens são tão potentes, tão capazes de se expressar artisticamente e contribuírem com seu olhar para a cidade e para o circuito de arte contemporânea, porque o que eles trazem por meio de seus projetos são perspectivas particulares, de quem vive a vida que eles vivem”, comenta.
Segundo o coordenador do Oi Kabum!Lab, o projeto complementa o circuito de arte convencional, que costuma expressar muitos pontos de vista de classe média. “Há um enriquecimento da arte do Rio de Janeiro e brasileira muito grande. A cidade ganha com isso, a economia criativa ganha muito com isso, porque não só há um fomento da economia criativa, mas um fomento para uma direção que, às vezes, não se beneficia. A juventude considerada periférica, de repente, é muito importante para renovar e inovar o circuito de arte contemporânea nosso”, declara.
Livre escolha
Os próprios artistas dividiram o conjunto de instalações artísticas e performances públicas em quatro temas: vida urbana; distopias ambientais; igualdade e cultura negra; e corpo-mente. O laboratório apoia o desenvolvimento desses projetos com infraestrutura, material e orientação de artistas e profissionais de arte e de tecnologia. “Ficamos à disposição para criar um ambiente de incubação criativa, orientá-los naquilo que eles precisam em relação à linguagem, técnica, conteúdos relacionados à arte, à cultura urbana. Mas eles são os protagonistas de seus projetos”, explica Mozart.
A mostra Interferências3 comemora os dez anos de parceria entre o Oi Futuro e o Centro de Criação de Imagem Popular (Cecip), organização civil pioneira na democratização do acesso às mídias e à cultura digital. A ONG foi criada em 1986 por Paulo Freire, Claudius Ceccon, Eduardo Coutinho, entre outros. Desde 2009, a Oi Kabum! tornou-se referência de conexão entre artistas e produtores culturais periféricos do Rio de Janeiro, com a participação de mais de 2 mil jovens em seus cursos e oficinas.
O Oi Futuro e a Oi Kabum! estão confirmados na programação oficial da próxima edição do SXSW EDU Conference & Festival, maior evento de inovação do mundo que ocorrerá em março de 2020, em Austin, no Texas, Estados Unidos.