Cotidiano

Exposição Favelagrafia 2.0 revela potências criativas de favelas do RJ

O projeto social Favelagrafia, lançado em 2016 volta agora com maior abrangência e novo formato, mostrando gratuitamente ao público, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM), a exposição inédita e multimídia Favelagrafia 2.0.  A mostra começa hoje (9) e se estenderá até 8 de dezembro.

A diretora da NBS SoMa, agência responsável pelo projeto, Aline Pimenta, disse à Agência Brasil que em 2016, o grande objetivo era mostrar as favelas cariocas pelo olhar de seus moradores. O projeto ganhou dois prêmios no Festival de Publicidade de Cannes, França, em 2017, nas categorias design e entretenimento,

“Existe uma imagem muito estereotipada das favelas”, disse Aline. “Como se nesses locais só houvesse atraso, armas”, explicou. O projeto decidiu então abrir inscrições em redes sociais e acabou selecionando nove jovens moradores de nove favelas do Rio de Janeiro com a missão de fotografarem as peculiaridades de cada comunidade, as paisagens do dia a dia.

Foi aberta então a conta no Instagram @favelagrafia, que foi sendo alimentada pelos nove fotógrafos com suas imagens preferidas. No final do trabalho, o MAM acolheu a exposição Favelagrafia, dada à qualidade das fotos. “De lá para cá, os nove fotógrafos participaram de uma série de eventos, palestras, viagens”, disse Aline. O grupo continuou ativo e como fotógrafos oficiais do projeto. Eles expuseram também no Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo.

Potências criativas

Este ano, o projeto Favelagrafia entrou em sua segunda fase, mostrando diferença em forma e conteúdo. Além de fotos, o projeto apresenta vídeos no formato de videoartes, que constituem o trabalho de produção e concepção, “que requer outras habilidades e um olhar mais aprofundado que o olhar de fotógrafo”, explicou Aline. O grupo participou de oficinas para que cada um descobrisse o seu estilo.

Em relação ao conteúdo, a diretora informou que os fotógrafos tiveram que retratar as potências criativas das favelas, na forma de pessoas. Eles escolheram pessoas ligadas à atividade artística, como música, dança, teatro, performance, que vivem ou têm relação íntima com as favelas. “A ideia era mostrar que a favela é lugar de potência e não de carência e tem um lado cultural muito efervescente”, sustentou Aline Pimenta.

Os fotógrafos Josiane Santana (Complexo do Alemão), Omar Britto (Babilônia), Anderson Valentim (Borel), Magno Neves (Cantagalo), Jéssica Higino (Mineira), Saulo Nicolai (Prazeres), Joyce Marques (Providência), Rafael Gomes (Rocinha) e Elana Paulino (Santa Marta) levaram três meses pesquisando, nas favelas onde moram, os artistas das mais diferentes manifestações artísticas e culturais das localidades. E, em vez de fotos, produziram pílulas de videoarte, que são filmagens curtas onde eles apresentam um pouco do trabalho desses moradores.

Para os fotógrafos, o projeto é uma oportunidade que faz muita diferença. “Uma porta que se abre muda uma vida”, afirmou a diretora da NBS SoMa. A discussão que a exposição pretende provocar é “por que não se abrem mais portas?”. Essa é a reflexão que a exposição se propõe fazer”.

Os nove fotógrafos têm estilos de vida diferentes que imprimem em suas obras. “É um grupo rico porque é heterogêneo”. Alguns deles vivem da fotografia, outros têm a fotografia como segunda atividade financeira e alguns a consideram um espaço de experimentação e vivência artística. Na exposição Favelagrafia 2.0, eles vão apresentar 18 vídeos e 36 fotos.

Próximo passo

Aline Pimenta revelou que o próximo passo, dependendo do patrocínio que o projeto conseguir, é criar uma rede de Favelagrafia no Brasil, partindo de São Paulo, que teria como monitores os nove fotógrafos das comunidades do Rio. “O pensamento é sempre ir acrescentando e criando uma rede que possa se fortalecer”.

Aline concordou que os nove fotógrafos viraram referência nas favelas onde residem e realizam um trabalho que deve ser visto por toda a sociedade. Este ano, o projeto incluiu oficinas de fotografia dadas pelos fotógrafos nas suas comunidades, que atraíram a atenção de muitas crianças, pré-adolescentes e adolescentes. “Não eram workshops de capacitação, mas de inspiração”, esclareceu a diretora. “É importante você ter referências próximas e eles são referências muito próximas e muito fortes”. Aline aposta que os fotógrafos das favelas podem mostrar que existe um outro caminho de vida, através da arte, “que pode dar certo, sim”.

Os talentos descobertos durante a primeira edição do projeto Favelagrafia, em 2016, têm mais de 40 mil seguidores no perfil oficial do projeto no Instagram @favelagrafia. O Projeto Favelagrafia 2.0 é incentivado pela Prefeitura do Rio de Janeiro, através da Secretaria Municipal de Cultura e foi idealizado pela NBS SoMa.