Cotidiano

Dirceu divide cela da Polícia Federal com dois contrabandistas

O ex-ministro da Casa Civil José Dirceu (Governo Lula) vai dividir espaço em uma cela com dois contrabandistas, na Custódia da Superintendência da Polícia Federal em Curitiba, base da Operação Lava Jato. Ele foi preso na Operação Pixuleco, 17º capítulo da Lava Jato, na segunda-feira, 4.
José Dirceu é investigado por corrupção e lavagem de dinheiro por meio de sua empresa, a JD Assessoria e Consultoria, já desativada. Condenado no mensalão, ele cumpria prisão domiciliar em Brasília. Sua transferência para a PF, no Paraná, foi autorizada pelo ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF).
“Ele [Dirceu] está [em uma cela] com dois presos por contrabando nada com a Lava Jato”, declarou o delegado Igor Romário de Pula que integra a força-tarefa da Lava Jato. “O irmão (de Dirceu, advogado Luiz Eduardo de Oliveira) e os outros estão em outra ala da Custódia. Ele (Dirceu) está numa ala com alguns dos outros investigados, mas em celas diferentes.”
Sem articulação de respostas
O delegado Igor explicou que “a separação [dos presos da Pixuleco] é para evitar articulação de respostas”. “Como dois [dos presos pela Pixuleco] já foram ouvidos, a preocupação é menor. Quanto aos outros seis o ideal é que não fiquem juntos.” O delegado informou que Dirceu está na mesma ala em que estão o doleiro Alberto Youssef e os ex-diretores da Petrobras Internacional Nestor Cerveró e Jorge Luiz Zelada, “mas em celas diferentes”.
Cerca de 50 pessoas aguardavam a chegada do ex-ministro em frente à sede da Polícia Federal. Quando ele chegou manifestantes explodiram fogos de artifício, exibindo bandeiras do Brasil e faixas de protesto. “O sonho acabou”, dizia uma delas.
A defesa de José Dirceu classifica como desnecessária e sem fundamento jurídico a prisão preventiva do ex-ministro, decretada pela Justiça Federal do Paraná nesta segunda-feira, e afirma que irá recorrer da decisão nos próximos dias.
Prisão domiciliar
Segundo o advogado Roberto Podval, o ex-ministro cumpre prisão domiciliar e já havia se colocado à disposição da Justiça por diversas vezes para prestar depoimento e esclarecer o trabalho de consultoria prestado às construtoras sob investigação.
“Como já havíamos argumentado no habeas corpus preventivo, José Dirceu não se enquadra em nenhuma das três condições jurídicas necessárias para a decretação de uma prisão preventiva: ele não apresenta risco de fuga, não tem como obstruir o trabalho da Justiça nem tampouco é capaz de manter qualquer suposta atividade criminosa”, afirma.
“Mesmo sem entrar no mérito apresentado pelo Ministério Público para justificar a prisão, o argumento da Procuradoria de que Dirceu teria cometido crime desde a época em que era ministro da Casa Civil até o período de sua prisão pela Ação Penal 470 também não tem fundamento porque, hoje, as atividades da JD Assessoria e Consultoria foram encerradas no ano passado e o meu cliente não tem qualquer contato ou recebeu qualquer recurso do delator Milton Pascowitch.”
“Números equivocados”
Roberto Podval alerta para o cálculo equivocado apresentado pela Polícia Federal sobre os supostos recebimentos ilícitos por meio da JDA. Na coletiva pela manhã, o delegado Márcio Anselmo afirmou que o montante chegaria a R$ 39 milhões.
“Esse é o total faturado pela empresa em 8 anos de atividade, quando atendeu a cerca de 60 clientes de quase 20 setores diferentes da economia” diz Podval. “Não há qualquer razoabilidade imaginar que os pagamentos de multinacionais de diversos setores da indústria teriam relação com o suposto esquema criminoso na Petrobras.” Desde 2006, a JDA foi contratada por empresas como a Ambev, Hypermarcas, Grupo ABC, Telefonica, EMS, além dos empresários Carlos Slim e Gustavo Cisneros. Todos, quando procurados pela imprensa, confirmaram a contratação do ex-ministro para orientação de negócios no exterior ou consultoria política.
“Querem apontar a JDA como uma empresa de fachada, o que é muito inconsistente”, completa Roberto Podval. “O ex-ministro sempre teve profundo reconhecimento internacional e desenvolveu importantes laços de relacionamento com destacadas figuras públicas ao longo de toda sua trajetória e militância política.
Esse era o ativo e o valor de José Dirceu como consultor, sem que nunca fosse exigido dele, por parte dos clientes, o envio de relatórios ou qualquer outro tipo de comprovação dos serviços prestados.” A defesa do ex-ministro reitera que o trabalho de consultoria nunca teve qualquer relação com contratos da Petrobras e que Dirceu sempre trabalhou para ajudar as construtoras na abertura de novos negócios no exterior, em especial em países como Peru, Cuba, Venezuela e Portugal.