Junto com a intensificação da influência decisória da China sobre a “região administrativa especial”, o aumento do custo de vida pode também ser um fator que tem mobilizado, especialmente, os jovens contra o governo local e o governo em Pequim.
“Existe uma insatisfação da população mais jovem em relação à situação econômica em Hong Kong. Eles consideram que o salário não é satisfatório”, avalia o especialista em Ásia Alexandre Ratsuo Uehara, coordenador acadêmico do Centro Brasileiro de Estudos de Negócios Internacionais & Diplomacia Corporativa da ESPM.
Segundo Uehara, “em Hong Kong, a renda per capita é elevada, mas o custo de vida subiu nos últimos anos. As pessoas têm nível educacional bastante bom, mas o salário não tem se elevado na medida da expectativa”.
Guerra comercial
O especialista também chama atenção para o fato que os protestos em Hong Kong ocorrem em paralelo à guerra comercial entre China e os Estados Unidos. “Uma parcela das operações comerciais da China se faz por Hong Kong”, explica Uehara. Conforme a Organização Mundial do Comércio (OMC), em 2018, Hong Kong destinou 8,1% das suas exportações para os EUA.
O especialista acrescenta que os norte-americanos temem que o Pequim intervenha diretamente sobre a região. “Isso poderia gerar mais protestos, inclusive dos Estados Unidos e aumentar a escala de tensão”.
O presidente dos EUA, Donald Trump, compartilhou mensagem em rede social na tarde desta terça-feira (14h17) descrevendo que os serviços de inteligência norte-americanos teriam informado que” o governo chinês está movendo tropas para a fronteira com Hong Kong”. De acordo com Trump, “todos devem ficar calmos e seguros!”
Além de ser um dos centros financeiros mais importantes do mundo, por onde se transaciona grande parte do fluxo financeiro da Ásia, Hong Kong é um importante exportador de equipamentos elétricos e eletrônicos e de telefonia.
Hong Kong fica no sudeste da China e tem uma área de 1.104 km², cerca de um quinto do tamanho Distrito Federal, onde está Brasília. A população estimada é de 7,3 milhões de habitantes.
Desde que a China, em 1998, recuperou a soberania sobre o território, a região goza de status político e administrativo especial, do princípio “Um País, Dois Sistemas”, conforme descreve o Ministério das Relações Exteriores.
Depois da tentativa de acabar com os protestos no Aeroporto Internacional de Hong Kong, o governo local divulgou nota afirmando que a polícia interveio após pedido da administração aeroportuária, e que os manifestantes “agrediram um viajante e um repórter, bem como impediram uma equipe de ambulância de levar o viajante ao hospital”.
Mais cedo, a alta comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, divulgou nota condenando qualquer forma de violência ou destruição de propriedade e pedindo que as manifestações ocorressem de maneira pacífica.