Cotidiano

"Foi um estúpido de um acidente", diz madrasta de Bernardo em depoimento

Já Edelvânia Wirganovicz, acusada de ajudar a madrasta de Bernardo a esconder o corpo, passou mal durante a sessão.

O quarto dia de julgamento do caso Bernardo, em Três Passos, no Noroeste gaúcho, é marcado pelos depoimentos dos réus. A primeira a falar foi Graciele Ugulini por cerca de duas horas. Já Edelvânia Wirganovicz, acusada de ajudar a madrasta de Bernardo a esconder o corpo, passou mal durante a sessão. As oitivas ficaram suspensas para o almoço dos jurados até às 14h.

Graciele Ugulini começou a ser inquirida pela juíza Sucilene Engler por volta das 9h30 da manhã. A madrasta começou contando como era sua vida antes de conhecer o pai do menino, Leandro Boldrini. Durante a exposição, ela contou que, após três meses de relacionamento, ela foi morar com o então namorado.

Pouco tempo depois – afirmou – ficou grávida, mas teve um aborto espontâneo. Graciele ressaltou que, a partir dali, sua vida mudou. Deste ponto até o fim do depoimento a ré chorou. Durante sua defesa e já de frente para os jurados, ela disse que considerava Bernardo um filho. Mas ressaltou que quando engravidou novamente, passou a se dedicar apenas a gravidez. Isso teria mudado a forma de relacionamento com o enteado.

A partir de então, segundo ela, Bernardo começou a se sentir rejeitado e que demandava atenção. Ela admitiu que só tinha olhos para a filha e que não se dispunha a dar tempo para o menino. Disse que estava sobrecarregada, mesmo com quatro empregadas tendo sido contratadas pelo casal para ajudar ela a cuidar dos afazeres domésticos. “Nunca [houve] agressão física, nunca encostei um dedo nele”, destacou.

Como foi a morte de Bernardo

Graciele declarou a sua versão para os fatos que ocorreram no dia da morte do menino. A ré disse que foi a Frederico Westphalen para assuntos pessoais, mas não entrou em detalhes. Conforme ela, nesse mesmo dia aproveitou para comprar uma TV e que foi até uma farmácia e comprou midazolam. Sua justificativa para a compra foi automedicação. Admitiu ter falsificado a assinatura de Boldrini.

De acordo com sua versão, Bernardo pediu um remédio para enjoo antes de sair de Três Passos. O menino teria ficado agitado depois que ela foi multada na estrada e ela administrou ritalina. Como ele não se acalmou, ela orientou que o enteado tomasse outra dose. Mas, segundo ela, ele ingeriu midazolam.

Edelvânia, que havia saído de Três Passos com os dois, pediu para que Graciele levasse o menino até um hospital. Segundo a madrasta “não se podia mais se fazer nada” porque não havia mais pulsação ou movimento respiratório. Graciele, então, teria pedido para Edelvânia ajudá-la a esconder o corpo. A amiga da madrasta se lembrou de um local na beira de um rio, onde o menino foi enterrado.

Disse que Leandro não sabia da morte de Bernardo e que pensou em contar para ele, mas que voltou atrás. Destacou que a morte do menino foi totalmente acidental. “Foi um estúpido de um acidente”, declarou mais tarde, aos prantos, quando perguntada pela sua defesa.

Ao término das perguntas da juíza, a defesa de Graciele informou que ela não responderia às perguntas do MP (Ministério Público). A palavra, então, foi passada a seu advogado, Vanderlei Pompeo de Mattos. Ele fez uma série de questões pessoais. Perguntou até se Graciele teria pensado em matar Bernardo antes. Ela negou em todas as respostas.

“Minha vida acabou”

Na sequência das perguntas, o defensor questionou como era a vida da ré na prisão. “Minha vida acabou”, resumiu Graciele. Conforme a madrasta, ela tentou por duas vezes cometer suicídio. Foi impedida pelos guardas da prisão. A partir daí foi levada ao hospital psiquiátrico, onde foi tratada. “Tive várias internações. Me seguravam e dando várias injeções e eu dormia dois, três dias”, destacou. Depois, ainda chorando, respondeu ao defensor que não via a filha há cinco anos e que passou dois anos e meio em isolamento.

Novamente questionada pela juíza admitiu que “dissimulou” quando participou das buscas por Bernardo nos dias que se seguiram a sua morte.