Os jogos de Tóquio 2020 podem estar distantes para muitos atletas e torcedores, mas estão mais próximos para as seleções brasileiras de goalball e futebol de cinco, que garantiram no ano passado vagas para a próxima paralimpíada, em 25 de agosto do ano que vem.
Para acompanhar a preparação dos atletas que vão disputar essas medalhas do outro lado do mundo, a Agência Brasil conversou com dois veteranos do paradesporto brasileiro que esperam estar no time que representará o Brasil nesses esportes.
Conheça as regras do Goalball e do Futebol de Cinco, esportes que são disputados por deficientes visuais.
Quinta paralimpíada
Ana Carolina Duarte, a Carol, integra a seleção paralímpica de goalball desde 2004, nos Jogos de Atenas, quando tinha 16 anos. A história dela se confunde com a trajetória do Brasil na modalidade, já que o país também estreou na competição na capital grega. Aos 31 anos, Carol acompanhou a renovação do time brasileiro e chega a 2019 treinando forte para conquistar sua primeira medalha paralímpica em Tóquio.
“Sou realizada no sentido da minha performance, por olhar para trás e ver o quanto eu melhorei e estou sempre melhorando. Mas só vou me sentir realizada mesmo quando conseguir a medalha paralímpica”, disse. “De 2016 para este ano, a seleção foi bastante modificada. Entraram atletas bem jovens e essa força da juventude agregada à experiência vem nos fortalecendo.”
O Brasil conquistou a vaga paralímpica por ter chegado ao terceiro lugar do pódio no último campeonato mundial da modalidade, no ano passado. O bom desempenho na temporada rendeu o convite para que a seleção brasileira vá para Tóquio no próximo dia 24, para participar de um evento teste do esporte ao lado das potências Rússia e Turquia, que foram as primeiras colocadas no mundial e também estão classificadas. O quarto país a participar do evento é o Japão.
“Vai ser uma aclimatação. A gente lembra de países em que a distância de fuso horário não era tão grande e, mesmo assim, houve diferença no nosso desempenho, então, essa ida para o Japão só vai somar”, afirmou Carol.
Na expectativa da viagem, Carol treina preparação física com seu marido, que é também membro da equipe técnica do clube paulista Apadv, de São Bernardo do Campo. Ex-aluna do Instituto Benjamin Constant, no Rio de Janeiro, ela lembra que foi lá que aprendeu os lançamentos do goalball, quando atravessava a cidade com sua mãe, de Pedra de Guaratiba, onde morava, à Urca, onde fica a instituição.
A atleta se tornou deficiente visual aos 12 anos, sequela que sofreu ao operar um tumor na cabeça. Com a ajuda da mãe, ela descobriu outras possibilidades no instituto especializado na educação de cegos. Porém, um ano antes de Carol ter sua primeira experiência paralímpica, sua mãe sofreu um infarto e morreu.
“Comecei a andar sozinha e a viajar pelo esporte. Foi o esporte que me fez superar essas barreiras. Principalmente a perda da minha mãe”.
Carol estudou no colégio Pedro II, se formou em Direito e hoje vive em Santos com o marido. Aposentadoria ainda não está em seus planos, mas, quando parar, seu desejo é ser mãe. “Tenho o sonho de ter minha casa própria e formar uma família, ter um filho. São outros sonhos, mas o goalball me faz querer continuar.”
Imbatível
A Paralimpíada de Tóquio será a chance de Ricardinho, de 30 anos, conquistar sua quarta medalha de ouro. Desde 2004, em Atenas, a seleção brasileira não conhece outro lugar no pódio, e o atleta esteve em todas as vitórias brasileiras desde 2008, o que inclui também os campeonatos mundiais da modalidade de 2010, 2014 e 2018. Neste último, o Brasil conquistou a vaga para a paralimpíada japonesa e chegou à marca de 10 anos sem perder uma competição.
“Isso gera um favoritismo bem grande, mas, para nós, também é uma responsabilidade muito grande, porque todo mundo quer bater a equipe favorita”, ponderou Ricardinho, que percebeu nos últimos anos que adversários mudaram seu estilo de jogo para copiar táticas dos brasileiros.
“Tenho certeza que as outras equipes vão chegar em Tóquio em um nível muito acima [dos Jogos do Rio]. O pessoal estuda muito o jeito de jogar do Brasil e do nada aparecem equipes fazendo o que o Brasil faz em termos de disciplina, tática e marcação. O nível do futebol de cinco vai aumentar bastante”, disse o campeão paralímpico.
Segundo Ricardinho, os adversários terão pela frente um Brasil ainda mais forte e ajustado à nova realidade do esporte. “Percebemos que o treinador está ajustando a preparação a médio e curto prazo. Ele analisa os jogos em vídeo e está sempre buscando alternativas”, afirmou.
O campeão paralímpico busca a convocação para os jogos de Tóquio com disciplina e apostando em seu preparo físico e técnico. No campeonato mundial do ano passado, Ricardinho foi o artilheiro do Brasil e eleito o melhor jogador da competição.
Ricardinho terá 31 anos em julho de 2020, quando será disputada a Paralimpíada, e não vê a idade como um problema. “Me cuido muito. Me conscientizei bastante e cuido muito da alimentação. Acredito que na paralimpíada de 2024, em Paris, condições físicas eu ainda vou ter de jogar.”
Essa determinação vem desde a infância, quando ele já sonhava em ser jogador de futebol. Aos seis anos, Ricardinho sofreu descolamento de retina e, seis cirurgias depois, perdeu totalmente a visão aos 8 anos de idade. Aos 11, ele começou a treinar, e os resultados não tardaram a aparecer. “Aos 16 anos, fui chamado para a seleção principal e nunca mais saí. É um sonho realizado.”
Olimpíada
O Brasil também começa o ano de 2019 com vagas garantidas na Olimpíada de Tóquio. O futebol feminino garantiu vaga ao vencer a Copa América em abril de 2018, e a Vela está com três vagas garantidas, nas classes 49erFX, Nacra 17, e Laser Masculino, também pelo desempenho em competições mundiais do ano passado.
Os atletas que ocuparão essas vagas serão definidos neste ano. Os Jogos Olímpicos de Tóquio começam em 24 de julho e vão até 9 de agosto de 2020. Já a Paralimpíada será disputada entre 25 de agosto e 6 de setembro.