Morre, aos 84 anos, o radialista Lauro Hagemann

O Repórter Esso do Rio Grande do Sul se calou. Na noite de ontem, o radialista Lauro Hagemann, 84 anos, morreu de causas naturais no Hospital Mãe de Deus, na Capital. Conhecido por ter apresentado o principal noticioso da época no RS por 14 anos, Hagemann teve posicionamentos políticos em uma profissão que cobra imparcialidade.
Natural de Santa Cruz do Sul, Hagemann nasceu em 23 de julho de 1930. O início da sua carreira ocorreu em 1946, depois do garoto se aventurar com colegas de escola no alto-falante da cidade. Logo depois, Hagemann foi convidado a trabalhar na recém inaugurada Rádio Santa Cruz. Em 1950, se mudou para Porto Alegre e fez um teste para locução comercial na Rádio Gaúcha, mas foi reprovado.

Lauro Hagemann apresenta programa nos anos 1950. Foto: Reprodução
Lauro Hagemann apresenta programa nos anos 1950. Foto: Reprodução

Hagemann recebeu um convite da direção da Rádio Progresso, de Novo Hamburgo, onde ficou apenas três meses. Nesse período, o radialista participou do concurso da Rádio Farroupilha, então uma das mais importantes do Estado, onde conquistou a vaga para apresentar o “Repórter Esso”. Hagemann apresentou o programa por 14 anos, até 1964.
Voz da Legalidade
Além de um dos maiores locutores do Rio Grande do Sul, Lauro também contribuiu na política, emprestando sua voz para a Campanha da Legalidade (ou Cadeia da Legalidade), em 1961, quando Leonel Brizola encampou a Rádio Guaíba para exigir que o vice-presidente João Goulart assumisse a presidência da república após a renúncia do presidente Jânio Quadros. A Campanha fez com que os profissionais de rádio percebessem a necessidade da categoria se manter unida. Em 1963, era fundado o Sindicato dos Radialistas do Rio Grande do Sul.
Em entrevista ao jornal Correio do Povo, em 2011, Hagemann falou da importância da Legalidade. “Se não fosse o rádio, não teria havido Legalidade. Foi tão fundamental que os milicos aprenderam depressa a lição”, diz, referindo-se ao golpe de 1964. De acordo com ele, os radialistas que aderiram à Legalidade o fizeram por uma questão patriótica. “Era um desejo cívico de servir à coletividade.”
Carreira política

Em 2010, Hagemann foi agraciado com o título de cidadão emérito de Porto Alegre. Foto: Foto: Elson Sempé Pedroso/ Câmara de Veradores de Porto Alegre
Em 2010, Hagemann foi agraciado com o título de cidadão emérito de Porto Alegre. Foto: Foto: Elson Sempé Pedroso/ Câmara de Veradores de Porto Alegre

O trabalho desenvolvido por Hagemann no sindicato o fez se candidatar a vereador, pela Aliança Republicana Socialista, na eleição de 1963. Depois disso, ele foi eleito deputado pelo MDB. Suas idéias comunistas o fizeram ser cassado em 1969. No mesmo ano, o jornalista voltou ao radiojornalismo através da Rádio Guaíba. Lauro trabalhou também na Rádio Pampa e na Rádio da Universidade.
Foi novamente eleito vereador de Porto Alegre em 1982, pelo PMDB. Em 1985, com a legalização dos partidos comunistas, foi para o PCB, se tornando o primeiro vereador comunista da Capital. Em 2010, Hagemann foi condecorado com o título de Cidadão Emérito de Porto Alegre.
O velório está sendo realizado na Assembleia Legislativa do Estado, no Salão Júlio de Castilhos (1º andar), desde às 9h, na Praça da Matriz. A cerimônia de cremação está marcada para as 19h, no Crematório Metropolitano São José. .