Guerras, confrontos e gastos com sistemas de segurança pública e privada consumiram US$ 14,76 trilhões (atualmente, cerca de R$ 57,56 trilhões) da economia mundial, em 2017. A quantia, que supera as cifras do ano anterior em 2,1%, pode ser uma estimativa inferior à real, considerando-se que alguns dos impactos da violência não são adequadamente mensurados ou reportados em fontes confiáveis de dados.
A conclusão faz parte do relatório The economic value of peace 2018 (O valor econômico da paz 2018, em tradução livre), elaborado por pesquisadores do grupo Vision of Humanity, vinculados ao Institute for Economics and Peace (IEP) – organização não governamental e sem fins lucrativos com sede em Sydney, na Austrália.
Ainda de acordo com o estudo, no acumulado de 2012 a 2017, com a intensificação de conflagrações como a da Síria, a do Afeganistão e a do Iraque, o aumento dos efeitos da violência nos resultados econômicos ao redor do globo chegou a 16%.
Além disso, nos últimos 60 anos, o crescimento econômico per capita dos países onde a paz predomina tem sido três vezes maior do que o daqueles em que há pontos de conflitos.
Na última década, as regiões mais pacíficas chegaram a ser sete vezes mais prósperas do que os territórios com níveis mais elevados de violência, provando, segundo os pesquisadores, que a deterioração da paz sacrifica o progresso dos países.
Brasil
No estudo, o Brasil aparece em 10º lugar na lista de países nos quais os altos índices de homicídio consomem parte expressiva do Produto Interno Bruto (PIB). De acordo com os autores do documento, esse tipo de crime absorveu 9% do PIB brasileiro, no ano passado.
O Brasil também se encontra entre os dez países onde a população mais sente medo de circular pelas ruas à noite. Segundo os pesquisadores, ao todo, 64% dos brasileiros são tomados por um sentimento de insegurança nessa circunstância, o que leva o país a ocupar a 5ª posição no ranking, junto com o Afeganistão.
No ranking geral, o Brasil fica em 37ª colocação, tendo gasto US$ 401,639 milhões (R$ 1,56 bilhão), ou US$ 1.904 per capita (R$ 7.425), proporcionais a 13% do PIB. Se acrescidos do chamado “efeito multiplicador” relacionado à violência, que inclui repercussões como o dinheiro que é afastado de áreas como saúde, educação, infraestrutura e cultura para a segurança ou a quantia despendida por uma família para um enterro de uma pessoa assassinada, chega-se a um total de US$ 511,364 milhões de dólares (R$ 1,99 bilhão).
A Síria, país que mais arcou com os custos econômicos da violência em 2017, centraliza 68% de seu PIB para esses segmentos. Enquanto a Suíça, situada na outra ponta, canaliza apenas 1%.
Equipamentos policiais e militares
A pesquisa, que comparou dados de 163 países, constatou também que, no ano passado, US$ 5,5 trilhões (R$ 21,45 trilhões), equivalentes a 37% do total movimentado, foram gastos com forças militares. Em seguida, vieram os desembolsos direcionados a sistemas de segurança interna, que totalizaram US$ 3,8 trilhões (R$ 14,82 trilhões), correspondentes a 27% do montante e que englobam rubricas de orçamento relacionadas às polícias e à Justiça.
Os valores aplicados a instrumentos de segurança interna e militares preocupam os pesquisadores que defendem que os países busquem iniciativas de prevenção e contenção de episódios violentos, optando por uma diminuição nesse tipo de gasto. “A pesquisa mostra um elo claro entre um ambiente mais amplo para a paz positiva e o nível de gastos necessários para a conter a violência”, escrevem. “A análise conclui que os países com os níveis mais elevados de paz positiva gastam 1% ou 2% de seu PIB em segurança interna, enquanto países com níveis medianos de paz positiva tendem a gastar mais.”
Apesar de fazer soar o alarme dos estudiosos que assinam o diagnóstico, ambos recursos vêm sofrendo uma redução em países economicamente mais desenvolvidos, com o passar do tempo. A questão é que essa tendência pode ser revertida nos próximos anos, caso os Estados Unidos e a Europa ampliem o investimento público no setor militar. Isso representaria, em uma face extrema, repressão e cerceamento de direitos civis básicos das populações, na avaliação dos pesquisadores.
Além das verbas reservadas aos militares, são considerados na equação do custo da violência feita pelo IEP outros 16 componentes: gastos com segurança interna do país; agências de segurança; segurança privada; manutenção de forças de paz da Organização das Nações Unidas (ONU); gastos com Assistência Oficial para o Desenvolvimento (ODA, na sigla em inglês), iniciativa da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE); custos diretos e indiretos provocados por mortes decorrentes de conflitos violentos internos e externos, perdas econômicas acarretadas por migrações forçadas, devido à saída de pessoas do mercado de trabalho em decorrência dessa situação, o que impacta a produtividade da cadeia laboral; importação de armas de pequeno porte; terrorismo; homicídio; agressões violentas; violência sexual; medo da criminalidade; e custos indiretos do encarceramento.
Os indicadores são organizados em três classes: violência interpessoal; gastos com serviços de segurança e prevenção orientada; e custos relacionados a conflitos armados. Ficam de fora da análise, por exemplo, informações relativas a violência doméstica e recursos usados em agências de inteligência.