O pesquisador norte-americano Peter Tarlow defendeu hoje (17), em palestra proferida no Rio de Janeiro, que os policiais tenham formação universitária. Segundo ele, a capacitação de todos os agentes demandaria um investimento pequeno. Tarlow também disse os países da América Latina pagam mal aos policiais, problema que precisa ser enfrentado.
“É preciso pensar no que queremos em um policial. Queremos muitos músculos e pouco cérebro? Isso não funciona. Precisamos de agentes que tenham a capacidade intelectual para enfrentar os novos desafios. Antes de gastar dinheiro com tecnologia, precisamos gastar dinheiro com os seres humanos”, disse o pesquisador. Segundo ele, os aparatos tecnológicos podem ajudar na segurança pública, mas não são suficientes.
“Uma câmera é uma coisa boa para resolver um problema, mas não previne o problema. Em Londres, na Inglaterra, as câmaras não têm sido capazes de prevenir crimes e atos terroristas”, exemplificou. Ainda de acordo com Tarlow, a falta de formação e capacitação não é culpa do policial, mas da sociedade.
Doutor em sociologia pela Texas A&M University, Peter Tarlow é especialista em impactos do crime e do terrorismo na indústria do turismo e em gestão de riscos de eventos. Ele já trabalhou em diversas agências governamentais dos Estados Unidos. Segundo ele, enquanto Las Vegas, em seu país, sedia há quase 30 anos um congresso internacional sobre segurança turística, a América Latina pouco discute o assunto. “Até hoje, felizmente, o Brasil não teve problemas com terrorismo. Mas isso é uma realidade no mundo. É preciso repensar os hotéis, aeroportos. Qual é o sistema que vamos utilizar nos táxis?”, questionou.
A palestra ocorreu durante um seminário organizado pela Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Rio de Janeiro (Fecomércio-RJ) em torno do tema “Cidade Segura, perspectiva, boas práticas e o futuro no Rio de Janeiro”. O futuro secretário estadual de turismo Otávio Leite (PSDB) estava presente e acompanhou a exposição de Tarlow. Ele integrará a equipe do governador eleito Wilson Witzel (PSC), que toma posse em 1º de janeiro.
Em uma breve fala, o futuro secretário afirmou que pretende impulsionar empresas startups, lançando um desafio para que desenvolvam mecanismos, aplicativos e tecnologias que contribuam para que o turista tenha a melhor atenção possível. “O turista precisa ser bem tratado para que, quando voltar à sua cidade, ele produza uma boa e espontânea divulgação. Segundo a Organização Mundial de Turismo, 40% das decisões de viagem se baseiam exatamente nisso: em ouvir falar. Não através de publicidade, e sim pelo chamado boca a boca”, disse Otávio Leite. Ele também se comprometeu com a realização de um congresso no Rio de Janeiro sobre segurança e turismo, tal como sugerido por Tarlow.
Cidade cuidada
O pesquisador norte-americano defendeu ainda que os policiais deveriam saber falar outras línguas, estando melhor preparado para recepcionar os estrangeiros. “O primeiro princípio do turismo é que ninguém precisa vir para cá. Se o turista deixar de visitar um destino, a vida dele vai seguir normalmente. Então, o turista precisa ser conquistado anualmente. E isso não vai ocorrer para sempre apenas pela glória dos Jogos Olímpicos e da Copa do Mundo”, avaliou.
O pesquisador relatou que, ao transitar por Copacabana nesta manhã (17), notou a falta de policiais, o que é preocupante para o cartão postal da capital fluminense e do país. “O Rio é Brasil. Do ponto de vista do turismo internacional, ninguém sabe onde fica São Paulo. Não deveria ser assim, mas é. A imagem do Brasil é a imagem do Rio”, lembrou.
Tarlow disse que estudos já mostraram que a percepção de uma cidade bem-cuidada influi nos índices de segurança pública. Segundo ele, com excesso de lixo na praia, a cidade passa a impressão de estar largada. O pesquisador citou a experiência de Nova York para combater a criminalidade no início da década de 1990. “A primeira coisa que fizemos foi plantar flores. E todo mundo se perguntava: ‘por que a polícia está plantando flores?’. Uma cidade bonita é uma cidade mais segura”.
Reputação
Para o pesquisador, um dos principais desafios que o Brasil precisa enfrentar diz respeito à reputação, impactada pelos índices de violência. Ele lembrou ainda que há elementos que contribuem para uma publicidade negativa, como as recomendações excessivas para guardar pertences no cofre do hotel e os avisos reiterados de que os estabelecimentos não se responsabilizam por objetivos perdidos.
“Ninguém diz o que o país está fazendo para me proteger como turista. Simplesmente todos dizem que não têm responsabilidade pelo que me acontece”. Outro ponto negativo seria a atitude de alguns taxistas que se aproveitam de estrangeiros e cobram mais do que o correto. “Alguém pode dizer que o custo ao turista aumenta pouco. Mas isso custa muito à cidade. É a reputação dela em jogo. O turista vai embora insatisfeito e se torna agente de divulgação negativa”, afirmou.
De acordo com o pesquisador, todos os cidadãos podem contribuir para dar ao turista a sensação de que, naquele local, o seu bem-estar é importante. “Hoje, quando eu cheguei ao Brasil, eu peguei um Uber e a última coisa que o motorista me disse após a corrida foi ‘bem-vindo ao meu país’. Isso valeu tanto. Foi uma mensagem de alguém que queria que eu passasse bem o tempo em que eu estivesse aqui”.