A restauração florestal de áreas degradadas ao redor dos rios da Bacia do Guandu, no estado do Rio de Janeiro, poderia gerar uma economia significativa em custos com produtos químicos e energia necessários para o tratamento da água que abastece a região metropolitana do Rio. A conta considera os benefícios causados pelas florestas e foi feita por pesquisadores que lançaram hoje (13) o relatório Infraestrutura Natural para Água no Sistema Guandu.
A conservação de florestas ao redor dos rios reduz a erosão, contém o escoamento de fertilizantes usados por agricultores e equilibra o fluxo de água em períodos de enxurradas e secas.
O economista Rafael Barbieri, que coordenou a pesquisa feita pelo instituto WRI Brasil, explicou que a Bacia do Guandu tem 290 mil hectares de áreas de pastagens, sendo a maior parte delas degradada. A restauração de apenas 3 mil hectares desse total, a um custo de R$ 103 milhões em 10 anos, traria uma economia de R$ 259 milhões no tratamento de água.
“A restauração, principalmente das áreas em torno dos rios, é extremamente importante para manter a qualidade da água, manter o fluxo hídrico para a conservação do solo e para reter o fertilizante que os produtores utilizam”, disse Barbieri.
“Da mesma forma que a gente pode, como consumidor, exigir uma agricultura com menos agrotóxico, ou comer carne com menos hormônio, por que não consumir água com menos produtos químicos? A floresta promove isso”, acrescentou.
A economia poderia chegar a 4 milhões de toneladas de produtos químicos. O reflorestamento reduziria também a quantidade de lodo que é gerado com a limpeza da água e atenuaria o desgaste dos equipamentos usados no tratamento.
A Bacia do Guandu já conta hoje com 35% de áreas de floresta, porém, somente a metade delas é de mata nativa em boas condições. A outra parte é composta por espécies exóticas, eucaliptos ou floresta degradada. “As áreas que ainda têm florestas são de extrema relevância. É muito mais barato conservar do que reflorestar”, afirmou.
Mananciais
O estudo foi lançado em um debate no Museu do Amanhã, no centro do Rio, em conjunto com o Atlas dos Mananciais de Abastecimento Público do estado, produzido pelo Instituto Estadual do Ambiente. O atlas traz informações sobre os 199 mananciais que abastecem os municípios fluminenses.
O biólogo da Fundação Grupo Boticário Thiago Valente, que participou do estudo coordenado por Barbieri, entende que relacionar as duas pesquisas pode dar à sociedade uma medida mais clara dos benefícios econômicos da preservação do meio ambiente.
Esses ganhos podem ser mais amplos se for levado em conta o potencial turístico das áreas preservadas e a necessidade de empregar mão de obra local para fazer o trabalho de replantio. Além disso, há o benefício da preservação da biodiversidade e do solo, além da maior resiliência a intempéries.
“Como a gente não consegue valorar todos eles [benefícios], focamos na água para dar uma dimensão”, disse. Ele que explica que os primeiros benefícios já poderiam ser sentidos em três ou quatro anos de restauração, quando as espécies chamadas de pioneiras são plantadas e crescem nas margens dos rios.
A partir disso, a floresta leva 30 anos para atingir o ápice dos benefícios para o sistema hídrico.